655-O PORCO DE GUARDA-CHUVA

Histórias surrealistas do Tio Levi Scarrol – 1º. Da série

Era uma vez um porco com um guarda chuva, caminhando numa estradinha de terra lá pelos confins de Minas. Era um porco diferente, já que, além de estar com um guarda chuva, usava botinas nos quatro pés e óculos sobre os olhos.

Você já viram como um porco usa óculos? Imaginem só!

Seu nome era Lombo-Lustroso, pois as costas eram cor de rosa e brilhavam sob o sol, apesar da poeira da estrada.

Ninguém sabia explicar porque Lombo-Lustroso estava carregando um guarda chuva naquele serão brabo, onde chuva era coisa que acontecia lá de vez em quando, uma vez por ano.

Ele andava com dificuldade, porque além do guarda chuva, carregava também uma geladeira. Uma geladeira portátil, é verdade, dessas geladeirinhas que a gente encontra nos apartamentos e quartos de hotéis, sabem como é.

Quem sabe Lombo Lustroso tinha surrupiado aquela geladeira de algum hotel?

A geladeira às vezes escorregava de um lado, às vezes de outro, e o porco usava seu guarda-chuva para evitar que ela caísse de vez.

Os bichos da redondeza foram se aproximando da estrada para ver aquela estranha figura: a Paca, o Tatu ( Cotia não), a Coruja (que tinha perdido o sono), as Formiguinhaz, as abelhas da colméia chamada Própolis, o Burro Falante, e muito outros animais do campo e da mata Todos foram se achegando à beira da estrada..

— Ei, Lombo-Lustroso! – Gritou o Grilo Falante. – Onde vai com tamanha dificuldade? Precisa de ajuda?

O porco levou um susto com a vozinha do Grilo Falante e deixou a geladeira cair num de sés pés.

Sentiu uma dor muito forte, pois aquele era justamente o pé que tinha um calo de estimação. Mas, apesar da dor, começou a rir. Ria tão alto que a coruja disse:

— Além de desajeitado, é louco de pedra. A geladeira quase lhe quebra o pé e ele ainda ri.

Lombo Lustroso respondeu na mesma hora:

— Pois não sabe, sabia coruja, que rir é o melhor remédio?

A paca, muito preguiçosamente, perguntou:

— E aonde vai com essa geladeira?

— Vou levá-la à casa de minha tia. Ela está precisando de uma, pois faz sorvetes e não tem onde colocá-los.

— E porque está com tanta pressa? Tanta afobação? — Perguntou o Papagaio.

— É que já está escurecendo e tenho medo de me perder aqui de noite.

— Ei, você é forte mas não é dois! — disse o Bicho Preguiça, dependurado num galho.

— Então vamos ajudá-lo — Propôs o Sagui, um macaquinho muito esperto e decidido.

A bicharada toda correu para a estrada, onde estava o Lombo-Lustroso. Ajudaram-no carregando a geladeira e o guarda chuva.

E deu tempo de chegarem ainda dia claro na casa da tia de Lombo Lustroso, que ofereceu a todos picolés de frutas do mato: Graviola, Pequi, Gabiroba, Gravatá e Ingá.

Lombo Lustroso pulava de alegria e gritava para os amigos:

— Ceis qué Sorvete de Pequi? Pequi tai. Ceis qué sorvete de Inga? Inga tai.

No final da história, todos cantavam

Oceis qué Pequi? Pequitái.

Oceis qué Ingá? Ingatai

Virou uma festa que ficou na lembrança de todos os bichos daquelas bandas.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 4 de março de 2011

Conto # 655 da SÉRIE 1OOO HISTÓRIAS

Inspirado no non-sense das histórias de Lewis Carroll.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 17/02/2015
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