O Longo Sono dos deuses
 

 
            Acreditam os mortais que nós, os deuses, não nos cansamos...
            Essa é apenas uma das ilusões que guardam. Mal sabem eles de toda a verdade sobre nós. Em nosso último sono coletivo, apagamos quase todos, daí as épocas de lutas, guerras, doenças e trevas. No entanto, despertei para ver o que se passava no mundo e achei muita graça.           
     Em uma febre louca, uma grande quantidade de humanos simplificou tudo e prevaleceu a crença em um só deus. Um só deus? Mal sabem eles que nós, os deuses, rimos de suas crenças, porém preferimos deixá-los assim, com suas doenças da mente.
            Ao passo que morrem, suas energias se elevam e se enfileiram à porta de nossa morada. Vi que uma multidão de almas enfileiradas, exigia a presença do supremo, do nosso líder. Aproximei-me dele que dormia profundamente sonhando com múltiplos universos. Senti sua energia e toda a alegria e paz que emanava. Para que interromper um sono tão bom e digno? Deixei-o em paz e fui ver o que poderia fazer pelas almas atordoadas lá fora.
            Veio-me uma ideia. Em um átimo, exercendo todo o meu poder, mandei que aqueles bilhões de almas voltassem à Terra, em novos corpos e que isso fosse cíclico até que nós nos cansássemos dos nossos sonos e voltássemos a cuidar das coisas como deviam ser cuidadas.
            Enquanto as almas dos homens descem e sobem, naquele giro que escolhi para que nos deixem em paz, senti que o que fiz foi bom, pois lhes deu algum sentido enquanto nos deixam sonhar em paz...