A Vida Pregando Peças

Quando me sinto sufocado, saio para dar umas caminhadas sem compromissos, faço isso de vez em quando, pra relaxar, espantar o estresse, me encontrar. Em uma destas, passava por um local e ouvi uma canção antiga, linda, vinda de um restaurante em frente a uma praça, resolvi sentar num banco mais próximo, um cão solitário me olhou e sentou ao meu lado, me fazendo companhia na minha audição nostálgica, minha mente fez uma busca automática pelo tempo, num passado bem distante, quase esquecido e você apareceu linda em minhas lembranças, sem pedir licença e acomodando-se, calada. Se passara quase uma hora, achei melhor seguir o meu caminho e deixar os meus pensamentos saudosistas e vagos na praça, olhei para o cão sonolento, este levantou a cabeça e abrindo os olhos intrigados, parecia me entender e nos despedimos. Estava me sentindo bem, meio confuso e sonolento igual ao meu amigo vira-lata, mais estava bem, caminhava distraidamente e assobiava o refrão da última canção ouvida, meus pensamentos fluía, eu estava leve, parecia flutuar e me peguei novamente vagando pelo passado, em seus labirintos, mesmo sem querer. Tive a sensação estranha que você estava ao meu lado, me acompanhando entre ruas e ladeiras, imaginei sua sombra, lembrava de trecho de nossas conversas quase mudas, distantes agora no tempo, senti até a sua cheiro purificando meu ar…respirei fundo para senti-lo mais forte, parece até que senti, hum! Doce delírio. Ás vezes o passado estar logo ali, estacionado em nossa mente, perto da rua das lembranças boas com a esquina das saudades eternas, ao nosso alcance, tentando se misturar ao nosso presente, mais sem êxito, pois ele não poderá ser editado…mesmo que imperfeito seja, está feito, escrito, sacramentado. Continuei andando…estava difícil me livrar de ti, começou a chover um pouco, molhando os meus pensamentos, pouco a pouco, dei graças a Deus, corri para um abrigo, me protegendo da chuva agora forte, torrencial, um diluvio, afogando minhas saudades, desbotando todas as minhas lembranças e colorindo as águas aos meus pés. E você continuou na chuva, intacta, linda, mesmo em preto e branco.

Roberto Ornelas
Enviado por Roberto Ornelas em 07/07/2015
Código do texto: T5302807
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