REENCONTRO!

Ao descer as escadarias da estação ferroviária, Severino notou alguns degraus à sua frente uma ‘mignon’ figura feminina que, munida de uma mala de viagem que sustentava, aparentando certa dificuldade, com sua mão esquerda, tendo em seu ombro direito uma bolsa tiracolo e mais uma sacola na mão direita!

Motivo pelo ‘repente solidário’ que lhe ocorre SEMPRE que percebe alguém enfrentando alguma dificuldade, desceu rapidamente os degraus que o separava da anciã, emparelhando-se com ela! A senhora, absorta, nem notou que parou ao seu lado e, em sendo assim, Severino tocou-lhe levemente o ombro esquerdo, o que fez com que ela meneasse levemente o pescoço em sua direção.

Com total razão, haja vista o estado de violência extrema que enfrentamos nesta nossa vida, fitou-o com expressão um tanto quanto assustada. Sorrindo levemente, ele apontou para a mala que pendia em sua mão esquerda e sussurrou:

--- Posso ajudá-la?

Em resposta, a senhora esboçou um leve sorriso, que ele assumiu como aquiescência, ‘apoderando-se’ da mala pendente.

Surpreso com o peso apresentado, ainda sorrindo emendou:

--- Caramba! A senhora é bem mais forte do que eu! Estou

segurando sua mala com a mão direita e acho-a bem pesada... A

senhora a estava levando com sua mão esquerda e ainda com

mais alguma bagagem no seu lado direito...

Severino prosseguiu falando:

--- Ainda bem que estamos descendo. Como dizem por ai, descer

todo santo ajuda. Pior seria se estivéssemos subindo...

A descida finalizou e Severino indagou:

--- A senhora irá agora para o lado esquerdo ou para o direito?

--- Para lá! – respondeu a senhora, meneando a cabeça para a o

lado esquerdo e fazendo menção de resgatar de volta sua mala.

Sorrindo mais uma vez, Severino completou:

--- Então, tudo bem! Também vou para o mesmo lado! Logo a

seguir enfrentaremos uma escada subindo e a escalada vai ser

um pouquinho mais difícil...

Seguiram lado a lado até alcançarem o inicio da subida da escada que se apresentou. Como no topo, apresentava-se a possibilidade de desviar-se também para a esquerda ou para a direita, Severino indagou:

--- Lá no alto, a senhora vai para a direita ou para a esquerda?

Um pouco titubeante, a senhora respondeu:

--- Vou prá lá... – meneando a cabeça para a direita.

Terminada a ascensão, Severino depositou a mala ao chão e disse:

--- Bem! Eu vou para a esquerda. Boa sorte na sequência de sua

viagem...

A senhora um tanto quanto ressabiada soçobrou, ainda titubeante e apontando com um menear da cabeça para o lado esquerdo:

--- Eu vou prá lá!

Compreensivamente, como explicado anteriormente, devido ao estado de coisas que enfrentamos ultimamente, quando mais e mais vale o ditado de que o seguro morreu de velho, Severino retomou a mala que havia pousado no chão, dizendo:

--- Então vamos! Há novos degraus para subir e como vou também

para aquele lado, prosseguirei ajudando-a!

Sabia Severino que ao final desta nova subida, sairiam em frente às catracas que possibilitam o acesso das pessoas que pretendem embarcar nos trens, sem possibilidade de saída daqueles que chegam, tendo aqueles que necessitam fazê-lo que percorrer mais um pequeno espaço até atingir portas giratórias que servem exatamente para escoamento das pessoas que desembarcam naquela estação. Porém, ao findarem a subida, consequentemente chegando próximos ao local que só permite o acesso àqueles que vão embarcar nas composições a senhora parou e informou:

--- Vou ficar por aqui!

Severino, embora um pouco ressabiado por saber que por ali não poderia ser feita a saída para o ambiente externo da estação acedeu, pois havia notada a justificável desconfiança da senhora no seu oferecimento de ajuda. No entanto, pela empatia que havia pairado pela figura delicada daquela senhora, ousou indagar:

--- Ok? Mas, eu poderia saber o seu nome?

Aparentando um maior alivio, a senhora respondeu:

--- Meu nome é Abigail! O senhor sabe que tive um filho já falecido

que se chamava Severino? Quando ‘meu menino’ estava para

partir, sussurrando me disse: “Mainha! Se tiver alguma

oportunidade, lá para onde estou indo, voltarei por aqui e ainda

a ajudarei!“.

Severino arrepiou!

Desde que seus olhos pousaram sobre aquela senhora que coincidentemente havia notado nos degraus daquela estação ferroviária pela qual transitou tantas vezes, não soube explicar a repentina empatia que sentiu! E agora, agora senhora lhe havia dito que tinha exatamente o mesmo nome de sua também já falecida mãe! E mais, que havia ‘perdido’ um filho que tinha o seu nome!

Severino sentiu seus olhos marejarem. Sentiu um tremendo desejo de acarinhar aquela, até a pouco, desconhecida senhora para ele. Em um sentido olhar perscrutou, olhos nos olhos, o semblante daquela sofrida senhora e indagou:

--- Posso dar-lhe um beijo e um abraço? Assim como seu filho,

também me chamo Severino!

A senhora, também com os olhos marejados, abriu os braços e acolheu calorosamente o abraço do portador da ajuda enviada pelo seu falecido filho!