O looping.

Bem, naquela noite eu fui transportado para os tempos de escola novamente, tempo de primário, tudo mais fácil, a vida mais simples, tirando o fato de que eu era daquelas crianças idiotas, com cara de bocó que os outros bagunçavam em cima, hoje em dia, chamam isso de "bullyng", mas, para mim é um termo muito cheio de frescura, antes era só zoar o idiotinha mesmo. Mas, o ponto não é esse, a questão, é que dessa vez minha mente, me levou de volta ao passado, no exato momento em que batia o sinal de saída, o fim das aulas por aquele dia, eu me vi apenas reunindo o meu material escolar, era o último aluno na sala, o que me fez me apressar como eu pude, assim que joguei tudo dentro da mochila, saí as pressas da sala, desci dois lances de escada que haviam em minha escola, correndo, de dois em dois degraus, até três de uma vez; segui direto para a saída, os últimos alunos já estavam cruzando o portão do pátio, e com um pique que não era meu, alcancei o portão, passando pelos arcos do batente como o vento, mas, por que cargas d'água eu estava correndo? Nunca vou saber, e acho que nem deveria saber.

Depois de conseguir sair, um ponto muito curioso me chamou muito a atenção, foi justamente o fato, de que eu me dirigia ao ponto de ônibus, minha escola na realidade, fica a cinco minutos da minha casa e no caminho entre minha casa e a escola, não transitava ônibus, nem nada, mas, mesmo assim eu segui, não nasci com o dom, de controlar meus pensamentos nem acordado, imagina em sono profundo... Assim que cheguei ao ponto, um ônibus logo chegou e eu o apanhei, paguei minha condução e assim que me sentei no banco, senti que me faltava algo, minha mochila, estava sem ela e não podia chegar em casa sem a mochila, então saltei no ponto seguinte e voltei correndo para a escola, o mesmo pique que usei para poder partir, agora usava para regressar; cheguei em minha escola, entrei as pressas, subi os lances de escada, entrei em minha sala, e lá estava minha mochila, caprichosamente posta em cima da cadeira, pronta para ser apanhada.

Repeti o mesmo percurso, rumo ao ponto, com a mochila em meus braços, não queria desgrudar os olhos dela, não queria cometer o mesmo erro, entrei, paguei a condução, me sentei agarrado com a mochila, até que chegou o ponto onde eu deveria descer, então me levantei, fui até aporta, dei o sinal e desci, para maior surpresa, era o ponto do metrô que eu deveria tomar também... Onde diabos era minha escola afinal? sem qualquer poder de questionamento ou recusa, fui em direção ao metrô, paguei um bilhete e entrei, para variar estava cheio, como é de costume por aqui, me coloquei num lugar próximo a porta e quando dei por mim, onde estava a minha mochila? Olhei ao redor e nenhum sinal dela, novamente, é um tipo de looping?

Desci na estação seguinte, pequei o metrô de volta, desci na estação anterior, e fiquei no ponto esperando o ônibus, até que logo em seguida ele chegou, estranhamente era o mesmo ônibus, o mesmo ônibus, o mesmo motorista, apesar de não ver feição nenhuma, isso que me deu mais certeza, de que se tratava do mesmo ônibus, ônibus antigo, que mesmo na época, era dado como fora de circulação, cheguei novamente a minha escola, repeti tudo novamente, cada passo, cada pequeno detalhe desde de os principais, até os menos relevantes e lá estava minha mochila, sentada em minha cadeira, eu a olhava fixamente, apanhei ela, segurei ela firme, num abraço sufocante e fugi novamente, atravessei mais que as pressas o pátio, apanhei o ônibus, que já estava no ponto, abraçado com minha bolsa, saltei do ônibus, corri até o metrô e o apanhei também, com a mochila nos meus braços, finalmente cheguei e coloquei minha mão na maçaneta, então de repente, me veio um flash na mente... "Se estou com minhas mãos livres, onde está minha mochila? Merda!

Agora, respirei fundo, fechei os olhos por uns instantes, e decidi refazer minha trajetória pela última vez, agora resolvi caminhar ao invés de correr e por ironia cheguei mais rápido do que antes, para ser sincero, estava em frente minha escola como num piscar de olhos, entrei calmamente, subi as escadas, degrau por degrau, entrei em minha sala, simplesmente apanhei a mochila e saí, vagarosamente desci as escadas, saí da escola, desta vez arrastando a mochila, já no ponto de ônibus, peguei o ônibus, me sentei com a bolsa em meus pés, no ponto da minha descida, me dirigi a porta e saltei, ainda arrastando a mochila entrei no metrô, me sentei num lugar, quase escondido num canto, até minha estação e então eu desci, fui em direção da minha casa, olhei em minha mão, ainda estava segurando a mochila, abri a porta e lá estava a minha mãe, preparando uma macarronada. Ela perguntou como foi o meu dia e eu só respondi, "legal".

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 10/11/2015
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T5443632
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