ILUSÃO OU REALIDADE

ILUSÃO OU REALIDADE

O “homem” vive durante a sua existência com um envoltório diáfano de projeções, idéias, noções, concepções, interpretações. Memorizamos eventos e informação em nossas mentes para depois compormos nossos conceitos e opiniões. Comportamo-nos como um sofisticado projetor que deambulando por todo o lado vai projetando sobre o que nos rodeia apreciações e formas que não estão em parte alguma mas apenas dentro de nós.

Assim sobre a realidade captada pelos sentidos recompomos e elaboramos telas equivalente que projetamos sobre os “objetos” em análise.

Não sendo uma realidade objetiva pois tudo que por nós passa fica sujeito à filtragem que fazemos e por conseguinte a uma pessoal interpretação podemos pensar que o todo se torna uma tela; assim, nunca poderemos ficar conscientes, por nós mesmos, de que não passámos por uma espécie de sono profundo.

Ouçamos esta pequena Estória

Certo dia um santo sufi, Hijara, em profunda meditação, experienciou a seguinte ocorrência:

Um anjo apareceu em seu sonho e lhe aconselhou a guardar o máximo de água possível de seu poço, porque na manhã seguinte toda a água do mundo ia ser contaminada pela acção do demônio. Todas as pessoas que bebessem daquela água acabariam por ficar loucos.

Assim, durante toda a noite, o santo sufi tratou de armazenar o máximo de água que lhe foi possível tirar do poço. E o tal fenômeno realmente acabou por acontecer: toda a população começou a ter um comportamento de loucura na manhã seguinte. Mas como todos agiam e reagiam do mesmo modo ninguém na cidade sabia que se estavam a comportar como loucos.

Sòmente o faquir agia de modo normal, prque não estava louco, mas toda a população se referia a ele como se ele tivesse ficado louco.

Ele sabia o motivo porque aquela situação tinha acontecido, mas ninguém acreditava nele porque ele era a única pessoa que se comportava de modo diferente. Como o faquir se sentia bem de saúde continuou bebendo da sua água embora agora permanecesse mais sozinho.

Mas ele sentia o isolamento e não podia continuar assim. Ninguém o ouvia e queria falar com ele. Finalmente, surgiu um rumor de que ele ia ser capturado e enviado à prisão. A população não queria correr o risco de ter na cidade sem qualquer controle um louco .

Certa manhã vieram buscá-lo. Ou ele era hospitalizado e tratado como doente, ou teria que ficar preso, pois não podia continuar em liberdade: Ele tinha sido considerado como alguém que estava completamente louco. O que ele dizia ninguém compreendia – ele falava numa linguagem diferente ...

O faquir não podia compreendia também porque estava a acontecer aquilo. Ele tentou ajudar os outros a lembrarem-se do seu passado, mas eles até disso tudo se tinham esquecido. Eles não sabiam nada do passado nem nada sobre o que existia antes daquela manhã de loucura. Por mais esforços e explicações do Faquir eles não conseguiam compreender o que ele lhes dizia; a sua linguagem tinha se tornado incompreensível para eles.

Cercaram sua casa e prenderam-no. No entanto , o faquir pediu-lhes: - “Dêem-me mais um momento para eu me arrumar e levar algumas coisas pessoais !” Então aproveitando todo esse tempo ele foi a correr até o poço comunitário, e bebeu daquela água e voltando todo fagueiro.

Agora, toda a cidade estava mais serena e feliz: o faquir tinha regressado à normalidade e estava bem outra vez; já não estava com ideias loucas e tinha um comportamento normal ou seja igual ao da população da cidade.

Na verdade, ele nunca tinha ficado louco, mas agora era considerado normal e parte integrante de um mundo comum.

Faro, 30 Junho 2016

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Gualberto Marques
Enviado por Gualberto Marques em 30/06/2016
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