LEMBRANÇAS: UMA VISITA AO PASSADO

... após mais uma daquelas brigas de casal, saí por aí perambulando, por volta das 23hrs, sendo mais preciso. Noite muito escura, céu repleto de estrelas, lindas, encantadoras, ...., mas caminhava desgostoso...

.... caminhei...., caminhei... naquela noite estrelada, azulada, como quem caminha de volta ao passado, mas sem sabê-lo!

...de repente após adentrar-se à Ezequias Trajano, “a outra rua” como a chamávamos na infância, no Dinamérica, em Campina Grande, passei por Seu Edmilson-buchão, a casa de Janaína e da Jararaca, Júnior duas bocas, do saudoso e eterno Bruno Negão – grande amigo, de Tarcísio Peba – o ninja kkkk, de Alisson macaquinho – do pão, de Neuma, Socorro Prástico [de elástico júnior e Borrachinha], oh, da linda e sumida Raquel, de Anderson e Alisson Creck [o homem que voava com borboletas e fazia de calangos cachorros de estimação, com direito a passeios].

Estava parado naquele chão onde joguei minhas melhores partidas de futebol, junto àquela árvore de algaroba da casa de Valbênia. Passei na casa de Laerte, seu barriga, de Noêmia, de nosso amigo Bega, e de outros tantos como Feroz – Joselito. Deparei-me então com a casa do negão Isac, do filho que batia bombo. Tive o receio de infância. Segui adiante um pouco mais naquela rua de terra, olhando sempre atentamente tudo. Passei em frente a Macklein, de Toinho [cara gente boa demais. Confesso que aprendi demais com ele e os meninos também. Talvez ele tenha nos ensinado com sua educação e gentiliza coisas que alguns pais esqueceram], onde havia uma carcaça enferrujada de avião. E ali ao lado, ainda está lá no recorte do tempo,.... sim no tempo intocável, o lixo da Macklein, onde pegávamos chicletes e pequenos brinquedos. Era o lugar das novidades!

...fui um pouco mais adiante e até o pequeno esgoto que vinha da foça ao lado da casa do Sr. Arroz [tínhamos ele como nosso avô] que seguia até a divisa da Rua de Zé e Marco Perneta [ que jogava demais], inclusive atravessava o matagal cerca de 10 metros após sua casa, onde estava sua mãe, cuidando dos porcos e acenando para mim [ mulher honesta e digna. Ajudou-nos como poucos. No dia em que partir, quero estar onde ela estiver, pois com certeza é um bom lugar.]. Sim, ao lado dela estava a torneira, preta, simples, naquele quintal sem muros, onde pegávamos água doada por ela – por aquele anjo – dona Jandira. A sua frente estava à Rua inclinada e gramada, cheia de ondulações, onde jogávamos futebol com Zé e Derli. Apenas olhei e subi novamente...

.... esbarrei-me num amigo que triste comentava sobre a perda de sua esposa. Acompanhei-o até sua casa, na Rua Antônio de Brito Lira. Dei-lhe um abraço e segui. Ao passar em frente à casa de Myller Costa Batista – o testa, e como fazia na infância, parei para escutar para ver se ele estava em casa. Escutei-o sim, naquela voz de menino, a falar com sua querida avó e sendo mandado até a casa de madrinha Maria. Pegou sua bike, branca com detalhes verdes, única, olhou para mim, como quem tivesse visto-me dentro do tempo, mas seguiu como se tivesse visto um fantasma – era apenas um ser de outro tempo. Um encontro fantástico na história.

...ao olhar para a direita estava o bar de Bau, fechado e em frente a irmã falecida de Derli, galeguinha, devia ter seus 7 a 9 anos, que de alguma forma via-me perfeitamente e acenava dando tchau para mim, sorrindo. Bom vê-la novamente. Ela que não teve tempo de brincar conosco.

Segui meu caminho..., e encontrei-me com meu passado, casa 187 – forte emoção, casa sem muros, um pé de goiaba na entrada, onde Lobinha morreu, ao lado esquerdo a barraca de seu Arthur oferecendo geládia. Fui atravessando a calçada feita por um ex-cunhado e falecido, Abraão – pai de Rute. Olhei bem para as plantas de mãe ainda intocáveis à esquerda. À direita o pé de palmeira, com suas muitas histórias a contar...

Parei no terraço de piso queimado, onde joguei diversos campeonatos de time de ficha, com Neto no Guarani batendo altas faltas. Procurei imediatamente Lobinha, meu cão, companheiro, aventureiro de muitas jornadas, de conquista de terras mágicas. Mas não o encontrei. Ele não apareceu por lá, no tempo. Mas lá estava diante de mim, deitados no terraço, os gatos Mil e Xaninha, que apenas me olhavam, agora sem medo! Aproximei-me daquela janela com uma lasca de madeira quebrada, “brechei” e não vi ninguém. Casa vazia. Olhei para a porta, apenas encostada e pensei se devia entrar, se tinha o direito de entrar. Aquilo era muito forte!

Entrei, devagar. Estava tudo silencioso. O sofá rasgado, a mesma Tv, a caixa de som preta com rádio antigo de Marcelo Holanda. Olhei em direção a cozinha e deu-me vontade de chorar. Então virei-me a direita e entrei no quarto de mãe. Lá estava a cama dela, o armário pequeno e verde, apenas...

Agora tenso, voltei-me para meu quarto, onde vivi grandes emoções, sonhos e pesadelos de infância. Abri a porta corajosamente. Vi a janela que dava para o quintal, olhei e estava lá, na casa dos fundos o anjo Fábio [moreno, de olhos verdes, magro e repleto de bondade em seu coração. Foi um cara incrível na vida da família. O bem que muitas vezes faço é em homenagem a ele.] No quarto apenas uma cama de ferro de Wellington e uma cama de palha, forrada com lençóis brancos e, deitada sobre ela o meu presente, que levantava-se, pegava em minha mão e saía... embora, levando consigo um galho do pé de palmeira!

... e eu ficava ali, sentado no batente da casa, olhando o pouco movimento da Rua, esperando o futuro chegar.........!

Por MAGNO HOLANDA