A culpa foi do pneu

Brincadeira de criança.

Chegamos! Com meu amigo num barracão, mas antes de chegarmos estávamos rolando pneu de caminhão.

Havia uma estrada de terra muito longa e era uma ladeira cheia de buraco e barrancos aos lados, matos, roças e pasto.

Quando chegamos naquela ladeira, olhamos aquela tão longa baixada que quase sumia de tão comprida, eu e meu companheiro dissemos uma para o outro:

___Vamos soltar aqui este pneu para ver até onde ele vai rodando?

E, então soltamos aquele pneu.

E ele ia rodando naquela estrada e ia saltando devido às barrocas que havia na estrada.

Às vezes parecia uma bola que ia descendo aquela ladeira.

Depois entramos para aquele barracão.

Parecia um ginásio de esporte.

Ali ficamos e esperávamos duas outras pessoas irem buscar aquele pneu.

E como eles demoravam a chegar, comecei a dormir no piso daquele barracão.

Estava muito escuro, não conseguia ver nada.

Quando comecei acordar devido a um barulho que estava acontecendo na parte superior, atrás de minha cabeça, onde tinha algumas dependências naquele andar, começou a perturbar-me, então comecei a gritar pelo amigo.

Davi! ... Davi! ... Mas era como se eu estivesse tendo um pesadelo, gritava, mas ninguém me respondia, parecia não sair voz da minha boca.

Quando acordei de vez, estava gritando Davi! ... Então percebi que a pessoa que estava lá em cima, parou de fazer o barulho e também percebi que ele estava descendo.

Veio em minha direção e passou bem por cima de mim me dando um chute. Não dava para vê-lo por causa do escuro, e ele tropeçou em mim com uma perna e com a outra aproveitou para dar-me o chute. Então, tornei falar: Davi! é você!? Ele me respondeu: eu não sou o Davi. Indaguei novamente: quem é você? Ele respondeu: eu sou o morador do andar de cima, estava arrumando uns móveis e você começou a gritar aqui em baixo, então vim ver o que estava acontecendo.

Então eu perguntei: Que hora são? Ele respondeu que era 6hs00min.

Não sabia, mas eu não estava sozinho dormindo naquele barracão. Foi quando ouvi duas mulheres perguntar para ele: Cadê a zumbira? Ele respondeu: Tá lá! Ela está descansando 6 por 13.. Então aquelas pessoas lhes disseram: Acorda ela!

Já está na hora de ela vir trabalhar para ajudar na limpeza.

Então levantei e olhei no relógio e eram apenas 02hs45min da madrugada.

O cara tinha mentido para mim, o frio estava apertando e eu não podia ir embora, meu amigo Davi tinha sumido.

Quando o dia clareava, olhei no relógio e aí sim era 06hs00.

Sai por aquele salão por onde aquela pessoa tinha vindo e desconfiado subi no andar superior e vi de longe meu amigo amarrado e amordaçado.

Fui depressa até ele e o vi quase morto, todo ferido, amarrado pelas mãos e pés, debruçado sobre uma mesa de madeira.

Muito penalizado com tudo que eu estava vendo, o desamarrei. Depois que ele descansou um pouco, descemos aquelas escadas e eu o segurava pelo braço.

Ele tremia como uma vara verde. Não sabia por onde começar me contar a estória do que tinha acontecido, visto que o medo o tinha tomado de um terror tão grande que ele não conseguia falar.

Foi um terror nesta noite, ele começava a me contar. Corri muito para não ser apanhado por dois vagabundos, mas não teve jeito.

Eram dois homens fortes, pareciam uns touros e eu corria pra lá e pra cá, mas não teve jeito. Só tinha uma porta de saída e um ficava nessa porta e o outro corria para me pegar, não teve como escapar deles. Quando cansei, o que estava na porta, veio e me pegou. Dai me amordaçaram para eu não gritar e me amarraram as mãos e pés, depois me bateram até eu desmaiar.

E o que eles queriam? Perguntei pra ele. Não sei! Respondeu. Como não sabe, você correu tanto atoa! Pois é! Respondeu.

Correram atrás de mim até me pegarem e não perguntavam nada. Como? Indaguei novamente. Então, só depois que me amarraram foi que eles me perguntaram do pneu.

Eu estava tão cansado que nem me lembrava de mais nada. Só depois que você começou a gritar lá embaixo que eles perguntaram do pneu novamente. E o que você falou? Uai! Eu respondi que o pneu devia estar rolando pela estrada até agora.

Falei pra eles pra onde o pneu tinha ido e um desceu, para ir ver se achava o pneu. Então você começou a gritar por mim lá embaixo, então o outro resolveu descer e ir embora também.

O sol já estava raiando e eu comecei a reparar no meu amigo e via que ele estava todo machucado de marcas de paulada e as pernas todas roxas de tanto correr e bater as pernas nas madeiras que havia no cômodo.

Eu percebia que enquanto nos íamos andando, ele mancava muito e só queria ficar do meu lado direito.

Eu passava para o outro lado e ele de imediato mudava de lado.

Então eu perguntei pra ele: Ué! Qual o motivo que você só fica trocando de lado?

Pensei que ele estava com a perna muito machucada, pois estava tudo manchada.

Aí eu perguntei pra ele: O que é essas manchas nas suas calças? Ele meio envergonhado ficou meio bravo e me falou. Ué! Eu fiquei com tanto medo de morrer que me caguei todo. Comecei a dar risada e não parava mais e ele não gostou nada, dizendo: Queria ver se fosse com você! Você ia ver o que era bom pra tosse!

Aí, não teve mais jeito, comecei a rir de novo e não parava mais e ele sem jeito começou dar umas risadinhas amarelas.

Pra eu tirar mais alguns baratos nele, eu perguntava: Cadê o pneu? E ele bravo respondia: sei lá de pneu. Eu não quero nem saber de pneu!

Passamos por um córrego e lavamos sua calça e depois que estava meio enxuta, ele se trocou e fomos embora.

No caminho ele insistia em me pedir que não era para eu contar nada pra ninguém.

Prometi que não contaria nada pra ninguém, mas quando me lembro deste episódio, me da um surto de riso que até me dói a barriga.

Brincadeira! Imaginação fértil.

AVALCANTARA
Enviado por AVALCANTARA em 17/07/2016
Reeditado em 18/07/2016
Código do texto: T5700984
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