BRYANA

Hilton estava cansado de toda aquela sua vida vazia. Há tanto tempo ele não sabia o que era a felicidade, apenas via a cada dia crescer uma onda de desamor. Totalmente desligado daquele mundo, daquelas coisas que o cercavam; ele às vezes se perguntava se era normal por sentir tanto vazio no meio de todo aquele mundo maravilhoso repleto de coisas belas.
Numa noite chuvosa aquela onda de solidão invadiu o coração de Hilton. E ele sai sem direção indo parar na praia. Algo o impelia a ir parar ali naquele lugar exato onde o mar estava mais agitado. Apesar da chuva ele sai do carro e encosta-se ao mesmo como se esperasse alguém ou alguma coisa. Sem ele esperar ou ver pressente alguém se aproximando lentamente. Ele olha e contempla o rosto de uma bela jovem. Ela se aproxima celeremente e o beija nos lábios suavemente. Hilton sente uma emoção inexplicável seguido de um calafrio na espinha.
- Quem é você!? Indaga Hilton atordoado.
- Meu nome é Bryana, sou a paz que você almeja e o amor que tanto necessita. Vem comigo e eu vou te mostrar o paraíso.
Bryana dá a mão para Hilton e o leva rumo à escuridão da noite. De mãos dadas eles embarcam numa fantasia louca de um paraíso onde só existia amor e felicidade. E ali ao lado de Bryana, Hilton encontra a plenitude da vida, do amor, de espírito, naquele paraíso perdido entre a fantasia e a realidade. De repente a água salgada do mar entra em sua boca e o traz de volta ao presente. E ele se vê deitado na areia da praia totalmente ensopado. Então Hilton corre para o carro retornando a sua casa velozmente não respeitando sequer semáforos. Suas batidas cardíacas estavam descontroladas e a pulsação anormal e um certo mal estar tomava conta de si seguido por uma ofegância fora do comum. Depois de mudar de roupa ele se deita e pensa em Bryana e no paraíso tão sonhado. Um estado letárgico e apático o possuía e ele grita amiudamente. Ele recosta-se e adormece retornado ao paraíso, contudo ao vasculhá-lo não encontra Bryana, a mesma havia sumido. Uma voz espectral e melodiosa ecoava no local: agora é a sua vez de vir até onde estou. Durante uma semana consecutiva o sonho se repete deixando Hilton confuso e em pânico. O que significaria aquilo e o que aconteceu realmente naquela praia e naquela noite. Um sonho fantástico ou fenômeno sobrenatural?
Tantas perguntas sem nenhuma resposta. Depois daquela semana o sonho desapareceu e cada vez mais Hilton se sentia vazio e infeliz. Ele retorna a praia e nada de Bryana, ela não aparecera novamente, embora ele a chamasse repetida vezes bem alto. Já em casa e cansado do seu dia de trabalho Hilton adormece e por fim chega o dia em que ele não aguentando mais tenta de novo encontrá-la no mesmo local, mas sua tentativa é em vão. De volta à sua casa ele sonha com um casebre humilde e ver Bryana entrando no mesmo. Então Hilton sente que se encontrar o casebre também achará sua amada.
Um ano se passa e Hilton ainda procurava Bryana e o paraíso. Havia ido a centro espíritas, em terreiros de umbanda, reuniões mediúnicas, nada, porém dera resultado. Com medo de está ficando louco Hilton resolve livrar-se daquela misteriosa obsessão internando-se num hospício. Nesse tempo de procura muita coisa mudou em sua vida: perdera o emprego, os amigos, distanciou-se da família e de mulheres tudo por causa de sua busca incoerente e incontrolável
Já a caminho da internação acompanhado do irmão que era médico Hilton sente que esta era a melhor atitude a ser tomada diante da situação que se encontrava. Pelo menos sua família o apoiava nessa decisão, coisa que há muito não acontecia.
Passam-se seis meses e ele continuava na casa de repouso. Era super bem tratado e toda a equipe médica achava que muito breve poderia voltar a sua vida normal. No dia anterior à sua saída ele recebe a visita do irmão que lhe diz que amanhã virá buscá-lo e que toda a família se reunirá na casa dos pais para uma comemoração. Era uma tarde fria de sábado dia de visita aos pacientes. Tinha outras pessoas além do irmão de Hilton, enquanto conversava com o irmão uma garotinha aproxima-se dos dois e beija Hilton na face. Em seguida uma mulher aproxima-se e pega a mão da garotinha dizendo: desculpem é que Bryana pensa que aqui é o paraíso e todos aqui são anjos, acho que por causa das roupas brancas, conclui a mulher sorrindo.
Na noite do mesmo dia levado pela nostalgia do dia em que encontrou Bryana, Hilton foge do hospício transtornado. Saí vagando sem direção e acaba retornando à praia. Ao olhar para
cima ele depara com um minúsculo casebre no alto de um morro. Era a casa do seu sonho. Ele sobe o morro correndo e entra. Outra decepção, pois o mesmo encontra apenas um velho tecendo uma rede. Ao encará-lo Hilton nota uma ligeira semelhança dos seus traços com Bryana.
- Bom dia meu senhor! Eu sou Hilton e...
- Eu sei porque você veio aqui!
- Como pode saber o motivo de minha vinda aqui, se nem mesmo eu sei ao certo. É uma história tão louca...
- Bryana, ela me contou.
- O senhor conhece Bryana? Onde ela está?
- Ela se foi deste mundo há alguns anos. Apenas deixou a sua paz espalhada por esse lugar.
- O que ela era pro senhor? Indaga Hilton já emocionado e com vontade de chorar.
- Minha filha, meu único tesouro, que me foi levado neste dia. Ela ainda era praticamente uma criança quando foi embora. Só tinha 15 anos e era tão linda, tão doce e tão bondosa. Bryana se foi, mas um dia eu sei que vou reencontrá-la.
- Então ela morreu? Inquere Hilton chorando.
- Ninguém morre, apenas vai para onde merece e ela merecia o paraíso.
- Sabe faz mais de um ano que eu encontrei Bryana aqui nessa praia. Ela me levou ao paraíso e desde esse dia nunca mais eu fui o mesmo, por isso como eu faço para voltar a esse paraíso.
- Nessa praia maldita Bryana morreu afogada. Eu a avisei pra não nadar devido ao tempo, contudo ela teve que me desobedecer logo naquele dia. Era um dia chuvoso e apesar de meus esforços não consegui salvá-la. Agora vá, eu quero terminar minha rede. Depois que minha filha morreu nunca mais pesquei, hoje, porém me deu uma vontade de terminar essa rede que eu havia começado exatamente naquele dia. E talvez amanhã eu vá pescar bem cedinho, ao falar isso desce uma lágrima do rosto do velho, que abaixa a cabeça e voltar a tecer sua rede.
Hilton desce o morro chorando compulsivamente e se senta na areia para contemplar o céu do horizonte, a imensidão do mar, o infinito vazio que foi, é e será sua vida. Ele tira então a camisa, os sapatos e a calça indo em direção ao mar. Ele entra e desaparece entre as águas revoltas do mar misturadas a da chuva que começa naquele momento.
No dia seguinte bem cedinho o velho pescador desce para pescar depois de tantos anos fora d’água. Em mar aberto ele lança a rede e espera. Ao puxá-la para dentro do barco tem uma surpresa ao ver o corpo de Hilton. Ao fixar o olhar no rosto do rapaz ele constata uma paz de espírito que não tinha visto ontem. Finalmente aquela criatura encontrara aquilo que tanto procurava.


ZARONDY, Zaymond. VIZZÕES. São Paulo: Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda., 2017.
 
 
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 15/04/2017
Reeditado em 15/04/2017
Código do texto: T5971857
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