Sugada paixão

A mim ela agarrou-se perdidamente. Nosso mergulho nas profundas correntezas somente agravou aquela conjunção da qual, se apenas leve sensação a princípio experimentei, ao cabo - confesso, envergonhado - repudiei.

Mas meus pretextos e protestos de nada adiantaram. Cada vez mais vinha ela colada a mim, como se fosse eu a sua tábua última de salvação. E a sua quase completa maciez me entorpecia. Arrazoar com ela, porém, era a mais bestificante inutilidade.

Mais que de paixão, seu agarramento era simplesmente seu vital alimento.

E só quando enfim, ao final da travessia, arquitetei rota de fuga, de mim apartou-se, saciada, a sanguessuga...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 03/04/2018
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