UM DESDOBRAMENTO ASTRAL
Ele retornou, tem nas mãos uma carta, uma anotação, um lembrete. As palavras no papel dizem “trarei outro presente”. 20 anos depois ele retorna. Uma carta “outro presente”, algo que me deixaria mais perto do homem que amei. Aquele homem é o do meus sonhos, vivia outra vida enquanto eu me distraía regando as plantas que florescem à noite.
20 anos se passaram. O primeiro presente foi a notícia de que eu não estava louco. Fiquei feliz por vê-lo alto magro vestido como se mantivesse luto perpétuo. A boa nova era que tinha renascido em outro plano quase tão material quando a Terra, que tinha missão especial, que travaria grande batalha no seio do povo governado despoticamente.
O amor tinha estado há 400.000 anos luz acordando, fez a viagem que eu até aqui chamara de morte. 20 anos se passaram em 20 segundos, ele regressa.
20 anos depois, abro a janela para a noite. Batem à porta, é muito tarde.
20 anos depois, o mesmo homem na escuridão com uma caixa nas mãos.
Os meus olhos 20 anos mais gastos, a pele dele enrugada 20 anos há mais,
a duvida é curta, é ele. Regressou como dissera, tem nas mãos o segundo presente,
uma caixa que vai abrindo enquanto sorri mostrando os dentes,
o mesmo sorriso de quando dissera: “regressarei”.
20 anos depois, o segundo presente, uma luneta. Ele trouxe olhos agudos
para eu acompanhar mais de perto seu retorno. 20 anos depois.
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Baltazar Gonçalves