QUARENTA ANOS DEPOIS

A solenidade de conclusão do curso ginasial tinha ocorrido no dia 12 de dezembro exatamente há quarenta anos.

Daquela turma mista de cinquenta alunos restaram breves contatos e assim mesmo bem esporádicos com cinco ou seis deles. Nas raras ocasiões em que marcamos encontro – para lembrar os velhos tempos – nunca éramos mais de quatro, mas o papo se estendia até a madrugada, quando os garçons nos tangiam para fecharem as portas dos estabelecimentos.

Novos estilos de vida e o passar do tempo tinham se encarregado de desfazer aquelas amizades que, sob juramentos febris, se diziam eternas.

Mas agora existe o zati zapi e outras mídias sociais que facilitam a vida de quem quer fazer um chamamento geral e, como é fato comprovado, que nós estamos separados (ou unidos) aos conhecidos por apenas três pessoas, alguém que você conhece, é amigo de alguém que é amigo daquele que noutros tempos foi seu conhecido e que você perdeu o contato, portanto essa pessoa pode refazer a ligação.

E assim aconteceu, recebi o convite destinado a todos aqueles que fizeram parte da turma, com número de telefone para contato e indicação de local, data e horário onde faríamos as reuniões preparatórias para o evento.

Conseguimos os contatos com a maioria ainda viva e notícias sobre o que tinham feito das suas vidas a partir daquela data que por conta dos preparativos, a cada dia, se tornava mais presente.

Tínhamos a sensação de que o tempo estava caminhando para trás.

Depois do (obrigatório e desnecessário) ato ecumênico, teríamos uma sessão solene no hoje remodelado auditório, com discursos do representante dos alunos, dos professores e da atual direção do colégio, faríamos um lanche e a fotografia com a mesma arrumação daquela antiga que, cada um havia recebido para recordar ad perpetuum aquele momento de glória em nossas vidas adolescentes.

Cadeirante, com mais de noventa anos, mas bastante lúcido o professor de português era o único ainda vivo. Os professores das outras onze matérias haviam falecido, muitos deles, bem antes da aposentadoria.

Durante a sessão solene, fizemos, sob aplausos, a chamada dos nomes de todos os professores.

Depois os nomes completos dos alunos, com um breve histórico sobre cada um.

Para os falecidos simplesmente citávamos as datas dos óbitos e para os ausentes, ou porque não conseguimos contato ou porque não quiseram aparecer, dizíamos apenas – ausente.

Findo o lanche, fomos para a escadaria na entrada do prédio para fazer a arrumação semelhante a da fotografia original.

O fotógrafo contratado quase tem um infarto para fazer a arrumação que ele considerava ideal e por conta dos muitos selfies dos eufóricos participantes.

Apenas o professor ficou exatamente na mesma posição e nós os vinte e sete presentes, nos colocamos nos degraus conforme a foto original, mas sem deixar locais vagos por conta das ausências.

Na calçada, ficou o professor com quatro de cada lado da cadeira de rodas, no primeiro degrau oito e no segundo degrau os onze restantes, mas quando a fotografia foi revelada, no quarto degrau estavam sorridentes e perfeitamente visíveis, os professores e os alunos falecidos, que haviam sido nomeados durante a sessão solene.