Um Cotidiano no Imaginário (Ou Vice-versa?)

Aquela era mais uma bela e ensolarada manhã de primavera que enfeitava aquela serrana e bucólica cidadezinha do interior fluminense onde, naquele cenário paradisíaco, parecendo dominar todo aquele horizonte, se destaca, imponente e dominador, a figura de um enorme e pujante casarão construído em estilo colonial que de tão grande, se tivesse algumas torres, visto de longe bem poderia ser confundido com um castelo.

Acomodado em um aconchegante e bem branquinho quarto, dentre as dezenas de outros ali existentes, estava o Zezinho deitado na sua aconchegante caminha, que também era bem branquinha e tinha proteção nas laterais. Ele bocejava escancarando aquela sua boquinha sem dentes, enquanto preguiçosamente se espreguiçava, pois tinha acabado de acordar. Aquela sua luzidia carequinha brilhava ainda mais naquele ambiente tão acolhedor, atingida que era por alguns dourados raios de sol, que teimavam em entrar através das frestas de uma grossa cortina que se balançava ao sabor da brisa suave daquela manhã primaveril.

Mas mesmo com todo aquele cenário lhe sendo totalmente favorável, o pequeno Zezinho parecia estar incomodado. Ele ficava se remexendo na cama enquanto olhava incessantemente para a porta do quarto, como se estivesse esperando a chegada de alguém.

Mas eis que então aquela enorme porta de madeira se abre lentamente e surge, altiva, exuberante e sorridente a Leila que, com seus seios fartos, se aproxima lentamente do Zezinho. Os olhinhos dele brilham quando ela dele se aproxima, parecem até que vão sair das órbitas. E então, quando aquele enorme par de seios se aproxima do seu rosto no momento em que ela está lhe trocando as fraldas, ele parece até estar babando... Ao terminar o serviço, depois de ter lavado direitinho e perfumado bem as suas partes, ela se aproxima dele; aperta levemente o seu narizinho e lhe dá um beijinho carinhoso em sua face enquanto sussurra baixinho em seu ouvidinho: "-Safadinho...". Ele escancara de vez aquela sua boquinha sem dentes num largo sorriso de alegria, enquanto que já abrindo a porta para sair, ela lhe joga um beijinho e diz: -agora já pode tirar aquela sua soneca ... A porta se fecha e o Zezinho se vira para o canto, feliz da vida e com um sorrisinho maroto naquele rostinho.

Enquanto isso, do outro lado da porta; vida que segue. A bela Leila dos seios fartos se encaminha garbosa na direção de um outro quarto ao fim do corredor. E na porta de onde ela saiu, em uma placa está escrito: "Quarto 28 - Paciente: José Augusto dos Santos - Idade: 79 anos."

Já um pouco abaixo da placa, em um pequeno pedaço de caderno, colado com fita isolante está escrito: "Quarto do Zezinho, o anão".