Contos do inconsciente. N° 1 (A casa da avó)

-Vem aqui de uma vez, rapaz, parece um idiota!

A velha não estava tão velha assim. O cenário era o de uns vinte anos atrás, impressão que Greg pôde constatar tanto pelos cabelos nem tão grisalhos da sua avó como pela maneira de falar da mesma, já que depois que suas madeixas ficaram brancas por completo, esse jeito de falar com os netos quase que cessou, seja pelo fato de as crianças terem ficado mais velhas e se distanciado do aconchego da matriarca, o que poderia dar a impressão de não haver mais uma certa intimidade das partes envolvidas, ou seja também a consequência daquela calma de espírito que as pessoas depois de uma certa idade adquirem. O grito fez com que Greg deixasse os pratos na pia (ele estava lavando a louça) e olhasse em direção à velha. Num piscar de olhos ele já estava encostando seu pequenino braço na saia esvoaçante da avó. Estava acontecendo uma espécie de reforma na casa e a avó estava furiosa por não entender por que cargas d'água ele não estava correndo em volta da casa.

- Tu é retardado ou só está praticando prum concurso de inutilidade avançada?

A velha sempre fora muito amorosa com seus petit-fils. Surgidos como que da terra, apareceram mais duas crianças para fazerem a empreitada juntos. No chão do corredor lateral do lado de fora da casa feito entre uma de suas paredes e o muro do vizinho, estavam várias fezes de cachorro, com certeza uma referência aos cães enterrados ali pelos meninos na vida de vigília; mortes essas que aconteceram por motivos que não tinham nada a ver com os garotos. Ao completarem uma volta ao redor da casa, deram de cara na saia laranja-escuro da avó, que tinha nas mãos um chuveiro que estava jorrando água para cima mesmo estando virado para baixo. Quem sabe uma referência ao fato de que nessa época na vida real os meninos faziam competição atrás da casa para ver quem conseguia fazer com que o xixi alcançasse o ponto mais alto na parede.

-Vocês escutaram o que a dona Pitana falou, não é garotos?

Miguel??? Que diabos o Miguel, um colega de serviço dos pais de Greg, colega esse que ele só tinha visto umas três ou quatro vezes apenas, estava fazendo ali e ainda falando isso? Talvez Miguel estivesse sentado em um tijolo, porque estava com a bunda quase no chão. Logo depois que ouviram essa pergunta de Miguel que mais parecia uma reprimenda, Greg voltou para dentro de casa(a casa da avó ficava nos fundos do pátio, pátio que contava com três casas). Greg continuou fazendo a atividade que estava tomando seu tempo até a primeira sentença proferida pela velha, e dessa vez quem fez uma reclamação foi Greg; sua mãe apareceu atrás dele e ouviu um protesto de sua parte. Queria saber porque só ele lavava a louça e sua irmã não.

-Então tu não gosta de mim? Só eu que lavo a louça!

Não ouvindo resposta da mãe, deu de ombros e saiu da casa batendo com força a porta que dava para os fundos, onde ficava a casa da avó. No mesmo instante que no sonho a porta bateu, na vida real seus olhos abriram fazendo-o acordar.

Quem sabe ele tenha ido ver com o Miguel o motivo de o infeliz estar ali.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 05/06/2020
Reeditado em 28/08/2023
Código do texto: T6968242
Classificação de conteúdo: seguro