Visão dupla

Ele disse que não havia estado lá no dia anterior; todavia, muitas pessoas o haviam visto no local.

- Como isso seria possível? - Indagou indignado. - Teria eu por acaso um irmão gêmeo?

- Era você - afirmou Laura. - Falou comigo e até mesmo fez aquela brincadeira infame de cutucar as minhas costas, quando me pega distraída.

- Isso não me parece ser uma atitude minha - defendeu-se, provocando zombaria generalizada.

- Se tivesse sido um cavalheiro, eu desconfiaria que estava possuído - arguiu secamente Laura.

- E então eu me sentei ao balcão e pedi uma cerveja? - Atalhou, para mudar o rumo adverso da conversa. - Espero que, ao menos, não tenha sido fiado.

- Você pagou, em dinheiro - informou o garçom, que enxugava copos atrás do balcão. - E também disse que era bom poder estar de volta, o que me pareceu esquisito. Afinal, você vem aqui pelo menos três vezes por semana...

- E havia bebido conosco anteontem - ressaltou Thomas.

- Afinal, se possui um álibi, onde esteve ontem à noite? - Inquiriu Matthew.

Virou-se para o interlocutor, confuso.

- Onde mais poderia estar? Na minha casa, claro, assistindo TV!

Os presentes lançaram-lhe olhares desconfiados.

- Então não tem um álibi - declarou Thomas.

- Álibi, álibi! - Protestou ele. - Sou por acaso suspeito de cometer algum crime?

- Talvez ele esteja com algum problema neurológico - aventou Laura. - Amnésia, quiçá.

- Eu consultaria um médico - afirmou Matthew.

- Estou me sentindo perfeitamente bem e não estive aqui ontem - defendeu-se ele. - Talvez eu tenha mesmo um... sósia?

Os presentes balançaram as cabeças.

- Ele se parecia muito com você - garantiu Laura.

- Pois, se retornar alguma vez, perguntem-lhe pela noite de ontem. E liguem para minha casa, preciso conhecer esse sujeito - solicitou.

Despediu-se dos amigos e saiu porta afora.

Cinco minutos depois, todos viram-no retornar, sorridente, como se nada houvesse ocorrido.

- É bom estar de volta! - Saudou-os.

- [16-11-2020]