NON
REALEM


Caro leitor te escrevo este texto ou te escrevo este conto, uma história maluca, sem pé e sem cabeça, até hoje sou taxado como louco por esse acontecimento.

Estava eu um dia indo ao trabalho, costumo ir a pé, e não foi diferente naquele dia. Passei pelo calçadão principal da cidade, era sempre cheio de gente. Uma mendiga me chamou a atenção, parecia ser ainda adolescente, tirei alguns trocados e dei a ela, de repente a moça agarrou minha mão e a partir desse momento minha vida mudou.

A multidão do calçadão sumiu em um piscar de olhos, os prédios começaram a derreter, o asfalto virou uma terra preta e seca e os carros se transformaram em esqueletos de animais enormes. A mendiga na verdade era um corpo metamórfico, sua forma original era de um belo anjo. Ela me tocou o rosto com os dedos, mas antes me disse que tudo que eu viria era um presságio, um distúrbio alucinante da realidade.

Andei por um mundo sem forma certa, o céu não tinha cor, o chão era de uma terra preta e seca. Fitando meus olhos para uma parte do céu vi um banquete, sentado em volta estavam sete leões vestidos de terno, comendo as mais variadas refeições. Eles se esbaldavam e jogavam os restos no chão, e uma multidão de abutres vestidos de trapos comiam.

Mais a frente vi um grande e imponente exército, todos usavam um elmo dourado na cabeça, porém, ele tampava toda a face, não podiam ver, nem respirar e nem falar. Enquanto isso uma cobra no alto de uma pirâmide dourada governava eles. Essa cobra matava muito deles, o sangue era de cor de vinho e escorria pela pirâmide, alguns faxineiros limpavam e acenavam, logo o exército gritava: "Somos fiéis a ti meu senhor"! ". O mais perturbador é que isso era um ciclo eterno, sempre quando eram mortos, os vivos gritavam a mesma frase.

Eu já estava ficando louco, então vi um lindo oceano, fui até lá, entretanto quando mais perto eu chegava, mais escuro e fedorento ele ficava, de repente um monstro enorme emergiu das profundezas, era como se fosse uma serpente não rastejante, possuía pernas e atirava fogo pela boca. Um trio de sereias ao meu lado cantou "Avisamos.. porém ninguém nos ouviu, agora Leviată está entre nós". Do outro lado uma selva densa começou a ter as árvores derrubadas e transformadas em cinzas, e do pico mais alto saiu outra criatura, um touro gigante, e uma tribo com instrumentos de percussão começou a cantar "O grande Behemoth veio... Ele atendeu nossos chamados". Do céu cinzento e denso uma harpia colossal apareceu, então uma orquestra começou a cantar "Lilith...Lilith... A rainha dos céus desceu para julgar a nóóóós!". Um grande terremoto começou e um homem gigante saiu da terra, a cabeça do homem era de ouro, seu peito era de prata, seu quadril e sua coxa eram feitos de bronze, o resto de sua perna era de ferro e sua espada era feita de ouro e ferro junto com detalhes em diamante e sangue petrificado, seu escudo era feito de titânio. As três criaturas uniram forças e atacaram o homem que foi esquartejado e dividido em várias partes como se fosse cacos de vidros.

A cabeça do homem gigante foi arrancada e quase caiu em cima de mim, mas de repente fechei e abri meus olhos e vi que estava deitado no calçadão, devia ser umas três horas da madrugada, tinha uma garrafa pela metade de um liquido azul. Aquela mesma mendiga agora bem-vestida apalpou meus ombros e disse: "Você bebeu muita alegoria, cuidado com a ressaca querido"


Organização/Produção: 28/04/2021 - 30/04/2021
Escrito em: 30/04/2021
Publicação: 21/09/2021
​​​​​

Chris Aponuceno
Enviado por Chris Aponuceno em 21/09/2021
Reeditado em 02/09/2022
Código do texto: T7347400
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.