Depois do Natal: Um conto para não ser lido à noite (cap XVI - SAINDO DA OFICINA)

Alguns dias antes, saindo da oficina, lá em sua cidade, antes de viajar, o casal deixou claro ao chefe dos mecânicos, aliás amigo de longa data, que só precisaria do carro depois do regresso da viagem.

- Vamos curtir uma viajem de ônibus! - disse o marido apertando a mão do amigo.

Sabendo disso o mecânico não começou imediatamente a recuperar o automóvel do amigo. Na verdade começou a fazer o serviço nos momentos de folga. E a recuperação ia se completando aos poucos: Algumas peças danificados já haviam sido trocadas. A tampa do capô já havia sido mudada. O para brisa, que se quebrara todo, já havia sido substituído.

Na realidade nenhuma peça essencial se danificara. O susto havia sido maior que o estrago. Tanto que o carro permanecia em funcionamento. Claro que ninguém se propõe a circular pela cidade com um carro todo amassado como aquele havia ficado. Mas estava funcionando, principalmente depois dos reparos, feitos pelo mecânico amigo.

A reforma que se fazia era mais para melhorar o aspecto do que por necessidade mecânica. Era mais para recuperar os estragos de lanternagem provocados pelos galhos da árvore que lhe caíra por cima.

Depois de tudo, ainda faltava o retoque final, da pintura!

Mas, como o carro estava apto a transitar, vez por outra o dono da oficina o utilizava para circular pela cidade.

Foi circulando pela cidade que percebeu a fumaça1

Ninguém sabe ao certo, como começou, mas o fato é que quando o homem da oficina chegou já havia uma pequena multidão ao redor da casa que queimava.

Chamaram o corpo de bombeiros.

Na primeira ligação que recebeu, o bombeiro de plantão achou que era trote e desligou depois de fazer algumas ameaças ao “engraçadinho que não tinha nada o que fazer”.

Mas outras tantas e insistentes ligações, chamando para o mesmo endereço, chamaram a atenção do inexperiente rapaz.

Entretanto quando o caminhão pipa chegou o fogo já devorava as últimas tábuas da casa. Era uma bela construção de madeira (do tempo em que se extraia madeira das matas sem cometer crime ambiental; do tempo em que se pensava que a floresta fosse uma entidade infinita e eterna. Não se imaginava, naquela época, que a degradação da floresta gerasse aumento da temperatura global, do efeito estufa... apenas se queria derrubar árvores, colher madeira … lucro!).

Essa foi a cena que o homem da oficina viu. Viu e se horrorizou, pois a casa era de seu amigo, dono do carro em que ele estava e estava concertando.

Não soube o que fazer. Aliás, nada mais havia a ser feito, a não ser tentar ligar para o amigo.

Pegou o celular e discou.

A voz que atendeu era estranha e disse não conhecer o nome pelo qual o homem da oficina chamava.

Era uma voz de homem, mas uma voz desconhecida. Dava para perceber que era voz de uma pessoa jovem, mas não era o filho do amigo, que ele sabia ser apenas um menino.

Mas não deu para concluir nada, pois o desconhecido desligou o celular.

O mecânico ainda ficou olhando para o telefone, sem entender, mas deu de ombros, dizendo consigo mesmo que quando o amigo chegasse conversariam pessoalmente. Afinal, por que incomodá-lo com pequenos problemas, se ele estava em férias e não estava precisando da casa.

Além disso, sabia que o amigo era muito precavido e mantinha um seguro completo sobre todos os seus bens e, inclusive, sobre a vida de cada um de seus familiares.

- “Não ficará sem um local onde morar” – pensou o mecânico… pensando, abatido, em voltar para sua oficina!!!

(Continua na próxima semana...)

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO

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