A MOÇA DO VESTIDO VERDE

Morto há quatro anos, o pai resolvera agora o assombrar depois que começou um caso com uma moça do trabalho. Já ouviu sua voz durante o primeiro beijo:

-Onde se ganha o pão não se come carne!

Na primeira ida à um motel, aparecera como pastor:

-Provérbios, capítulo 7 versículo 34 "Porque furioso é o ciúme do marido, e de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança." Quase enfiou o carro em um poste.

Brigara com ela no dia anterior, no intuito consciente de se livrar do pai e de um possível escândalo. Hoje haveria uma importante reunião na empresa, onde apresentaria um projeto para um grande contrato. Torcia os dedos para que ela não aparecesse. Mas ela veio. Loira, cabelos longos presos por um lenço que lhe dera há uns três meses. Baixinha, sempre com o queixo levantado a desafiar o mundo, agora cabisbaixa Os lindos olhos castanhos claros, vermelhos, provavelmente de tanto chorar. Usava um vestido verde de botões já meio surrado pelo tempo. O mesmo que vestia da primeira vez, há um ano atrás. No whats a singela mensagem:

-Me perdoa. Eu te amo!

Na hora da apresentação, que deveria ser o coroamento do seu trabalho, se embananou todo. Via seu pai em cima da mesa, cantando como em um show, uma versão estapafúrdia de Né quitte pas:

--C'est va se ferra. C'est va se fede. Que co moier casa da. No deve mete. Vá toma balê. Parra aprrendê. C'est va se ferra. C'est va se ferra. C'est va se ferra.

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 21/12/2021
Código do texto: T7412531
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