A resposta

No princípio, a escuridão absoluta vagava, e vagando ela encontrou o brilho de mil sóis. Quando se depararam um ao outro, eles se orbitaram sem jamais tocarem, e nessa dança o tempo se derramou em areia, cobrindo o horizonte. E os deuses, sentados em seus tronos, observaram com curiosidade os seres que habitavam a criação.

Primeiro veio a mãe de todas as fomes, e com fome, ela devorou a terra;

depois vieram seus filhos, que com fome, devoraram as montanhas;

e os filhos deles, com fome, devoraram os mares e oceanos;

Em seus tronos, os deuses assistiam o decorrer da história fascinados, mas um deles apiedou-se dos famintos seres, e concedeu-lhes a dádiva da mortalidade. Então, ao encararem a brevidade da vida, os esfomeados seres agora mortais passaram a devorar uns aos outros, insaciáveis pois não perderam a fome de sua natureza.

E assim foi, até que restou somente um, e os deuses, incrédulos, desceram de seus tronos e foram testemunhar o quão feroz foi aquele que devorou a humanidade.

Sobre as areias, os deuses avistaram uma figura esquálida, o pequeno ser era quase um espectro, e os deuses atônitos se aproximaram, "Como?", eles lhe perguntaram, e o humilde devorador, com seus olhos grandes e fundos, olhou na face dos deuses e sorriu, sua boca ausente de dentes nem língua.

"Como?", os deuses repetiram, como pode um ser tão ordinário, faminto por natureza, sobreviver à carnificina da humanidade sem devorar nada nem ninguém?

Exasperados, os deuses andaram de um lado pro outro, discutindo hipóteses, qual parte da história eles não prestaram atenção, aquela pequena criatura, último filho da fome, havia somente se sentado sobres as areias, fitando as estrelas, e esperado.

Esperando ele ficou, e quanto mais os deuses argumentavam, menos entendiam e mais cansados ficavam, e o tempo foi passando, até que o vento soprou a areia, e, como a vida mortal é finita, havia chegado a hora, os deuses viram, em seu último instante, a criatura outrora pequena, agora gigantesca e reluzente, sorrindo do alto de sua imponência, ela era o Tempo, cuja fome devora as respostas da existência.

Fernanda Loyola
Enviado por Fernanda Loyola em 15/01/2022
Reeditado em 30/08/2022
Código do texto: T7430146
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