Sem cabeça
Uma barata sobreviveria uma semana, então depois morreria de sede.
Eu não, em menos de 30 segundos eu apaguei.
30 segundos de uma eternidade infernal, um chafariz rubro cheirando a ferro.
Meu corpo estendido tendo espasmos.
Meus olhos do outro lado da sala assistindo tudo em câmera lenta.
Como a lenda do cavaleiro.
O folclore da mula.
Os 26 mortos na rebelião num presídio no rio grande do norte.
Ou o fantasma Nick que vaga pelo castelo, ele era quase eu sou completo
Degolado, descabeçado, decapitado, enfim descansado.
No lugar de minha cabeça botaram um globo de balada
Em uma sala de reboco dançando reggae
Um homem com chapéu de cowboy fumando maconha.
Turistas bêbados aproveitando ao máximo
Um cachorro preto correndo no dancehall
Estamos comemorando a minha morte.
O descanso eterno de toda essa canseira chamada vida.
Minha cabeça ao lado do toca discos com um chapéu de lampião assistindo tudo em "câmera rápida"
Dançam desbravam deliciam deliram e dormem
Todos ao meu redor deitados, eles estão vivos, eles ainda sentem o cansaço.
Mas eu continuo dançando só com o globo de balada no lugar da minha cabeça.
Dançando para sempre a celebração da morte, como uma festa jamaicana em 1969