A NOZ DE FORA (microconto)

 

Jadel se chamava de Joel e sempre fechado, trancado em si, se via como uma noz, daquelas compactas, com poucas curvas e que ao contrário das outras, revestia a sua casca ou casa, como ele mesmo definia. No sanatório onde ele residia, Lumah que era uma das cuidadoras, sentia muita pena daquela criatura carente e, insana ao mesmo tempo. Jadel se comportava como uma ostra ou como uma noz,  como ele dizia nas raras vezes que se expressava. O clima se alterava, mas, ele parecia nada sentir. Houve até um incidente, quando Fernanda, que era outra paciente, tentou abraçá-lo e ele gritou, gritou, quase perdeu o fôlego. O pobre homem, parecia estar realmente sentindo uma dor lacinante. As palavras projetadas não pareciam ter sentido, minha noz...minha pele...não me rasgue... não me quebre. Acabaram por sedá-lo.

 

Os exames que fizeram no hospital, pontuaram que a sensibilidade da pele de Joel, era muito superior à maioria das pessoas. Mesmo depois do efeito do sedativo ter passado, Jadel seguia se chamando de Joel e, se vendo como uma noz de fora, onde o miolo recobria a casca.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 08/07/2023
Código do texto: T7832335
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