Neta da Bruxa

Não me atrevo mais a me relacionar com nenhuma mulher. Ainda mais com uma mística como essa que narrarei.

Era feriado de Nossa Senhora. Fui para uma cidade pequena, visitar uma tia. Até aí, tranquilo. Tinha um quarto só para mim, bastante comida e bebida. Entretanto, faltava algo. No trabalho, não pegava ninguém. Nos aplicativos, ninguém dava a mínima. Nos bares, não tinha coragem de chegar em alguém.

O marido da minha tia, doente e debilitado propôs que eu fosse para a praça da matriz, em uma festa de rua. Fiquei relutante, mas como falaram que a cerveja e a cachaça eram baratas nos bares de lá fiquei interessado. Fui sozinho para a praça, de bermudão e camiseta florida.

Fiquei lá, parado, sem encontrar ninguém, bebendo tranquilamente. Nada e ninguém me cativava. Entretanto, apareceu uma mulher lindíssima, esquisita, mas lindíssima. Era morena, pele pálida, e um corpo magrinho, do jeito que eu gosto. Ela em si não era esquisita, o que era estranho era a vestimenta: saia e camiseta preta, um colar de pentagrama, sapatilha e uma mochila, como se fosse uma “neta da bruxa”.

Não precisei chegar nela, pois ela que chegou em mim. Conversa vai, conversa vem, falo de ciência da computação e ela de pedras mágicas e essas coisas. Nem dei muita atenção, sempre fui muito cético em relação a isso. Ofereci bebida e ela disse que só em rituais específicos, ofereci cigarro e ela disse que destrói a aura das pessoas. Ela era realmente estranha.

Chamei-a para ir para casa... da minha tia... não tinha muito lugar para ir, e ainda tinha um quarto só para mim. Ela aceitou, e fomos.

Meus tios estavam dormindo, então entrei com ela sem ter que dar explicação. Entramos no quarto, ela tirou a roupa e ficou só de calcinha e sutiã. Deitou-se do meu lado e disse com tom de sarcasmo:

— Não acredita em magia, não é?

— Sinceramente, não, sou um homem da ciência.

— Como dizia Lovecraft, homens da ciência podem enlouquecer.

— Duvido muito...

Ela se levantou, abriu a mochila e pegou um tubinho estranho. Imaginei ser lubrificante, mas não era exatamente isso.

— O que é isso? — perguntei desconfiado.

— Um óleo mágico. Pingue algumas gotas em mim.

Como eu achei que não ia acontecer nada de mais, aceitei. Ela se deitou do meu lado, e eu pinguei o óleo em seu abdômen e parte superior do peito. Joguei o tubo para o lado e me deitei também.

Ela manteve-se em uma distância considerável, e ficou olhando para o meu rosto.

— Não vai tocar em mim? — perguntei sem paciência.

— Estou com a mão no seu ombro.

— Impossível! Não estou sentindo nada.

— Tente se levantar então.

Tentei. Tentei e tentei, não conseguia levantar. Tinha um peso estranho em cima de mim, que eu não sentia na pele, mas estava ali. Eu estava assustadíssimo, quase em pânico.

Ela então se aproximou de mim, e então aconteceu algo surreal. Senti como se nossas mentes se conectassem, e então eu vi o meu maior medo, e senti que ela também. Você pode achar bobo, mas um bug é o que mais me assustava no mundo. Loops infinitos, cores piscantes. Eu fiquei louco.

Depois que acabou essa visão, eu já queria essa mulher e qualquer coisa parecida com ela longe de mim. Mandei ir embora e ela foi gargalhando. Minha tia acordou, mas a garota já não estava mais ali. Falei que era um vídeo que eu estava vendo, e ela com sono aceitou e voltou a dormir.

Por causa disso, voltarei ao meu celibato. Não me arrisco a vivenciar uma desgraça dessas de novo. Afinal, sou um homem da ciência, não sou?

Otacílio de Almeida
Enviado por Otacílio de Almeida em 10/12/2023
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