A FAZENDA URBANA

Quem conhece um pouco da cidade de São Paulo sabe o tamanho da diversidade de coisas boas e ruins que nela existem.

Digo isso por me lembrar de um sujeito que aqui chegou e viveu, bastante tempo, sem nunca deixar de ser um verdadeiro roceiro. Eu o conheci, e se chamava Josias. Ele morava numa iniciante vila periférica da metrópole, mas não se desligava de ser um verdadeiro capiau da roça. Josias era muito teimoso e não dava ouvido aos falatórios de seus parentes sobre suas condutas. Por mais que pareça, afirmo que em pouco tempo Josias adquiriu duas vacas e com elas, amarradas em cordas, vivia pra cima e pra baixo à procura de capim para alimentá-las. Em todo final do dia lá vinha ele com suas vacas assustando os transeuntes que por ali passavam. Era um corre-corre assustador de homens, mulheres e crianças para se livrarem de um possível ataque daquelas bem-aventuradas criaturas divinamente adoradas na Índia, mas, por aqui, elas não passam de simples produtoras de leite e de carne.

Na esquina da rua que morava Josias tinha uma modesta casinha de três cômodos e na frente dela havia um quintal de aproximadamente cinco metros quadrados que ele cercou com arame farpado e transformou em curral e chiqueiro, pois lá ele colocou as doas vacas para dormir juntamente com dois porcos. Aquele espaço de chão passou a ser a fazendo de Josias.

Em determinado amanhecer ele matava um porco e o gritante barulho fazia a vizinhança acordar apavorada com os sofríveis grunhidos do infeliz animal. Em seguida Josias colocava na rua o falecido sobre uma mesa e vendia a carne a preços módicos.

Certo dia Josias resolveu matar uma das vacas e na véspera ele saiu de porta em porta avisando a toda vizinhança para ir comprar a carne.

Havia bastante gente na frente da casa esperando ser atendida. O espanto dos compradores era contado de forma absurda. Uma mulher, ao sair da dita casa, disse que viu grandes pedaços da vaca em lugares inimagináveis, por exemplo: que a cama do casal estava forrada com plástico amarelo e sobre ela havia algumas partes da vaca, tais como: a cabeça com dois chifres e uma bacia com as vísceras. Disse também que viu as quatro patas no chão do quarto e que uma mesa na cozinha tinha grandes pedaços do animal. Ainda salientou que, na cozinha, viu uma geladeira aberta com muita carne sangrando e o mau cheiro dominando o lugar. A tal mulher acrescentou que não teve coragem de comprar a carne porque sentiu enjoo e ânsia.

Mas, mesmo com muito empecilho, Josias fez bom faturamento

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 01/04/2024
Código do texto: T8032515
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