A FESTA

A FESTA

Grande festa programada para entrega de prêmios à artistas de cinema e televisão. Comes e bebes garantidos em qualidade e quantidade. Amplamente noticiado pela imprensa, causando um grande movimento de pessoas “comuns” ao evento, esperando ver seus artistas preferidos e quem sabe “filar” uma bebidinha.

Ninguém esperava a afluência de tantos “mortais” ao evento e a segurança, sem dar conta do problema, necessitou ajuda da polícia que foi chamada para “dispersar” os penetras.

Eu, que queria apenas filar uma “bóia”, entrei pela porta da frente, como convidado fosse, e misturei-me ao burburinho. Quando a polícia chegou foi uma correria em busca da saída e postei-me atrás de uma coluna, esperando não ser visto pela milícia.

Mas, como minha roupa simples com certeza me identificaria, bolei um plano: tinha um ferimento no lábio, causado por uma batida em um móvel, que estava quase cicatrizado; arranquei a “casca” do ferimento que, logicamente, sangrou um pouco. Ao ver um segurança deslocando-se em minha direção, coloquei um lenço – pois é, eu uso um lenço no bolso, sujo mas útil - sobre o ferimento e esperei.

Fui intimado pelo segurança, um “armário” uniformizado, a sair; respondi-lhe que estava esperando por um colega dele que prometera um curativo no ferimento. “Sou um artista”, pensei; quem teria uma idéia dessas !

Mas as coisas não correram como previa; o cara quis ver o ferimento e diante de minha negativa em retirar o lenço, simplesmente o arrancou de minhas mãos. A violência do ato ocasionou que, com a unha, aumentasse mais o tamanho da ferida que sangrou abundantemente.

Preocupado, puxou-me pelo braço para uma sala onde funcionava uma espécie de ambulatório improvisado; ali estava um enfermeiro que achou necessário suturar o corte. Quando vi aquela agulha em forma de anzol vindo em minha direção achei melhor fugir dali; afinal estava lá para filar um “rango” e não sair com o lábio costurado.

Mas o braço do enfermeiro estava tão próximo que não consegui desviar e a agulha acabou cravando em minha boca e, como estava em fuga, o estrago foi grande. Acho que o enfermeiro era um estagiário tão inexperiente que ficou pálido, assustado, que não teve outra ação senão levar as mãos à cabeça e dizer: “-Que foi que eu fiz ?”.

Foi um corre-corre e na tentativa de retirar a agulha de minha boca outro segurança que estava próximo acabou espetando-a em minha gengiva e piorando a situação. Já estava desesperado com a situação que comecei a gesticular, já que não podia sequer falar, pedindo que alguma providência fosse tomada.

Alguém teve uma idéia: chamar um médico.

Resultado: eu que vivo na rua, mendigando, e queria apenas comer alguma coisa, estou agora no hospital, recuperando-me de uma cirurgia na boca, com o rosto todo inchado. E olho com tristeza para meus companheiros de quarto que rejeitam aquela comida do hospital – dizem eles: “horrorosa” – enquanto nem aquilo posso comer.

Mano Jota
Enviado por Mano Jota em 23/03/2008
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