O Fusca casa, a casa Fusca

Desde pequeno, o Aloisio

Vivia sempre a sonhar

De ter um fusca bonito

Pra com ele desfilar

E de ver a mulherada

Só por ele se esganar

O tempo foi transcorrendo

Sem dar fim ao pensamento

E quando ficou rapaz

Abandonou o seu jumento

Disparou para São Paulo

Como um pássaro ao vento

Lá arranjou um emprego

De ajudante geral

E com o que dele vivia

Só podia passar mal

Mas com muita economia

Formou logo um cabedal

Com o dinheiro adquirido

Comprou o fusca sonhado

Vivia todo poseiro

Bem vestido e perfumado

Só não podia rodar

Por não ser habilitado.

Alugou uma garagem

Que lhe custava uma grana

E não tendo mais dinheiro

Nem pra comprar uma cama

Dormia dentro do fusca

Já sem emprego e sem fama

Seu pensamento agora

Era voltar pro Ceará

A terra que o pariu

E que jamais devia deixar

Estava mesmo atolado

Sem ter pra quem apelar

Todo bem que possuía

Era apenas um fuscão.

Agora desempregado

Sem ter nem mesmo um tostão.

Fazia do fusca a casa

Fazia da casa o fuscão.

Passava o dia inteiro

Alisando o seu carrão

Era o bem mais precioso

Que possuia deste então

Mas no fundo de seus bolsos

Não tinha nem um tostão

Certo dia estava ele

Querendo se amostrar

Abriu toda a garagem

Pôs o fusca a funcionar

O rádio cantava alto

Um forrozinho pra animar

Um sujeito ia passando

E lhe acenou com a mão

O abestalhado Aloisio

Lhe deu toda atenção

Depois lhe entregou a chave

Na mira de um três-oitão

O ladrão saiu contente:

Acelerando; tirando “fina”

Mas só andou poucos metros

Pois não tinha gasolina

E aos gritos do Aloísio

Bateu o fuscão na esquina

O coitado em disparada

Com o coração já na mão

Abraçou-se ao seu fusca

Chorando pra multidão

E ao contar sua triste história

Ali vendeu seu fuscão.

Entrou no primeiro bus

Com destino ao Ceará

Dizendo que em São Paulo

Nunca mais ia pisar

E que o sonho de ter um fusca

Acabou sem começar.

Voltou pra sua terrinha

Cheio de decepção

Dizendo que nunca mais

Iria sofrer tentação

Embrenhou-se em sua roça

E foi cuidar da plantação.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 10/09/2008
Reeditado em 16/04/2019
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