NO SERTÃO ONDE EU MOREI

NO SERTÃO ONDE EU MOREI...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

2 0 0 8

Hoje chorei de emoção,

pruquê fui cumo incumenda,

da lembrança, prá fazenda,

nais quebrada do sertão.

Na minha imaginação,

no Carirí me incontrei.

E num sigundo, eu vortei,

a um tempo munto gostôso,

prá lá de maraviôso,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Guardo na minha lembrança,

qui in meu Carirí sedento,

na sêca é um sufrimento,

mais no inverno é isperança.

Lá cheguei munto criança,

e jamais isquecerei.

O qui surrí, qui chorei,

é parte da minha históra,

qui no verso eu conto agora,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Relembro a todo momento,

cum emoção e alegria,

qui a lida do dia a dia,

era um divertimento.

Na cangáia do jumento,

entre ais ancurêta, andei.

Água na jarra eu butei,

e lenha in carro de boi,

no passado qui se foi,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Me acordava bem cedíin,

e ia logo p’ro currá.

Quando o leite, ia tirá,

arriava o bizerríin.

Tudo isso aqui, amiguíin,

na memóra amufumbei.

O qui de curtura eu sei,

cum Júlio Prêto aprindí,

na Maiáda onde viví,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Alí, de madrugadinha,

de bem longe já se via,

a fumaça qui saía,

dais chaminé dais cunzinha.

O aivorôço dais galinha,

muntas vêiz presenciei.

Muntos cafézíin tumei,

cum rapadura e quaiáda,

cuscúiz e galinha torrada,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Acredite e faça fé,

dispôi de apartá o gado,

e sortá lá p’ro céicado,

nóis ia tuma café.

A cavalo ô a pé,

ir p’ro campo, era de lei.

Já dêxava uis côxo chêi,

de ração prá dá uis bicho,

era tudo no capricho,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Na seca queimava ispíin,

xique xique, páimatóra,

pru dia, oito, deiz hora,

mode iscapá uis bichíin.

Andando ivagaríin,

ais vaca, munto eu levei.

Cum essa luta lidei,

da lembrança num me sai,

nais fazenda do meu pai,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Da queima, trazia o gado,

lá prá cacimba do ríi,

quage uma légua, meu fíi,

mode dá água aos coitado.

Andava mais um bucado,

p’ro currá, sem aperrêi.

In casa, mil vêiz cheguei,

dispôi dais oito da noite,

cum o vento fríi in açôite,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

No tanque, ia me banhá,

no iscuro, detráis de casa,

pertíin do fogão, nais brasa,

dispôi ia me isquentá.

Mamãe butava o jantá,

papai se sintia um rêis.

Vô cunfessá prá vocêis,

inda choro cum sodade,

daquela felicidade,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Munto uví no amanhincê,

o cantá da passarada,

chucái de vaca amojada,

na hora do só nascê.

O carro de boi gemê,

ao longe, munto iscutei.

Na minha mente guardei,

todo som, tôda beleza,

da nossa mãe natureza,

NO SERTÃO ONDE EU MOREI.

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Acad. de Trovas do RN

Da União Bras.de Trov.-UBT-RN.

Do Inst. Hist.e Geog. Do RN.

Da Com. Norte-Riog. De Folclore.

Da Ass.Poetas Pop. Do RN-AEPP

Da União dos Cord. RN-UNICODERN

Do Inst.Hist.e Geog. Do Cariry-PB

Site: www.bobmottapoeta.com.br

E-mail:bobmottapoeta@yahoo.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 15/09/2008
Código do texto: T1179854
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