A EDUCAÇÃO DO JOVEM NA REPÚBLICA DE PLATÃO - Folheto III (atualizado)

A EDUCAÇÃO DO JOVEM

NA REPÚBLICA DE PLATÃO

(Filosofia em Cordel)

Por: Rosa Regis

Volume III

Continuando o trabalho

Que trata da Educação

Do jovem grego, que irá

Ter como obrigação

Guardar mui bem a Cidade,

Já que ele, na verdade,

É o futuro Guardião,

Veremos, então: - o Mito

E sua utilização;

- O amor e a obediência

À Pátria, por extensão;

- A origem do guerreiro:

Como ele é, por inteiro,

Na sua composição.

...

“Proferidas a propósito,

As mentiras poderão

Ser bastante proveitosas”

Diz-nos Sócrates, então.

Porém, como fazer ver

E aos juízes convencer

De que estou com a razão?

E aos cidadãos, o que

Faremos para passar

Uma informação destas?

Será que irão aceitar?

E aí, Glauco se admira.

Diz-lhe: - Qual é a mentira?

Permita-me perguntar!

E ele: - Não é novidade!

Na Fenícia, começou.

E, de acordo com os poetas,

É real, e se espalhou.

Em várias partes se deu.

Porém nunca sucedeu

Em nossos dias. Parou.

E assim, não será fácil

Que alguém venha a acreditar

Na sua realidade

Pois não tem como provar.

E agora, como fazer,

Para que venham a crer?

Sócrates teme falar.

As expressões lhe falecem.

Não tem coragem de ousar,

Mas afirma: Vai fazê-lo!

E diz como vai falar:

Procurará convencer

A todos. Vai prometer.

Diz pra ninguém duvidar.

Magistrados e guerreiros,

Os primeiros que terão,

De forma persuasiva,

Uma boa explicação

De que o aprendizado

Foi-lhes por sonho passado.

Diz-lhes com convicção.

E depois, aos cidadãos,

Tudo isso será dito

Como sendo verdadeiro,

O que, na verdade, é mito.

As fantasias criadas,

Como verdades são dadas:

Oral e, depois, escrito.

...

Nasceram do seio da Terra

Junto com tudo que têm.

Ela os formou e os pariu.

Devem, pois, querer-lhes bem.

E, como mãe, devem amá-la

E contra quem atacá-la,

Lutar por ela também.

Bem assim, tratar aos outros

Como devem ser tratados

Todos que dela nasceram

E nela foram criados.

Pois, na verdade, irmãos,

São todos os cidadãos

Pela mãe Terra irmanados.

São, todos, irmãos, os homens

Que do Estado fazem parte.

Mas o Deus que os criou,

Trabalhou com muita arte:

O apto a governar,

Quando o estava a criar,

De ouro, pôs-lhe uma parte.

Aos guerreiros, acresceu

Prata em sua formação;

Lavradores e artífices,

Ferro e cobre, terão.

Assim, de origem comum,

Os filhos de cada um

As linhagens herdarão.

Mas que uma raça produza

Uma outra pode ocorrer.

Assim sendo, aos magistrados,

Deus lhes diz o que fazer:

Das crianças, estudem a alma

Com dedicação e calma

Pra melhor as conhecer.

Qual o metal de tal alma

Eles deverão saber.

E se houver mescla de ferro

Ou de cobre, o que fazer?

Mesmo que seja seu filho,

Agir com justiça e brilho.

Trate-o sem qualquer mercê.

Deverá ser relegado

À pobre categoria

De artesão e lavrador.

É o que lhe caberia.

Magistrado e guerreiro,

Cabe ao escalão primeiro,

Que ouro e prata teria.

Pois, o Oráculo, diz Sócrates,

Afirma: Vai acabar

Se extinguindo a República

No dia em que a governar

Uma alma de bronze ou ferro.

Isso é fábula, se não erro.

Iriam acreditar?

Talvez não sirva agora

Pra geração atual,

Diz Glauco. Mas aos filhos,

Aos netos e, afinal,

Aos demais descendentes,

Lhes servirão, certamente,

Como educação formal.

O guardião da cidade

Terá que ser educado

De forma que obedeça,

Sempre, como comandado.

E que esteja satisfeito

Com o que tem por direito

Na condição de soldado.

Terá, enfim, que ser brando

Com o outro, e com quem

Estiver sob sua guarda,

O tratando sempre bem.

Mas, isso vai depender

Da educação que irá ter

Desde a infância também.

Mas além da educação

Que tanto já foi falada,

Todo homem de bom senso

Tem que saber que a guarda

Terá que ter condição

De sobrevivência, ou não

Lhes poderão cobrar nada.

Pois, sem os meios de vida,

Qual seja: habitação

E com que se alimentar,

Nada impede o guardião

De atacar a cidade

E até, com ferocidade,

Ao seu concidadão.

Nenhum pode possuir

Nenhuma propriedade.

Objetos de valor...

Só de alta necessidade.

E nem pode ter pra si

Casa ou dispensa que, ali,

Entre alguém, na verdade.

No referente à comida,

Bons guerreiros que serão,

Receberão das pessoas

Que estão sob a proteção

Deles, como recompensa

Aos seus serviços. Assim pensa

Sócrates. Nos diz Platão.

E mesmo assim, a comida

Tem que ser na proporção

Que nada sobre ou falte

Durante o ano. Pois não

Deverão comer além

Ou aquém do que convém

A um físico forte e são.

Na hora das refeições

Juntos à mesa estarão.

No campo, vida comum,

Todos eles levarão.

É o que convém ao guerreiro

Que tem por fim derradeiro

A defesa da Nação.

Aos guerreiros, será dado,

Em forma de conhecer:

Se têm ouro e prata n’alma,

Vindo de Deus, não vão ter

Precisões materiais:

Coisas, para si, banais,

Que de nada vão valer.

Se o seu ouro é ouro puro

E imortal, misturar

Não poderá com a liga

Que o irá contaminar:

A do “ouro da impiedade

Infinita” e da maldade,

Que ouro nunca será.

Assim, tão só poderá:

Tocar ou manusear

O ouro ou a prata e

Pra sua casa levar;

Usá-los em seus vestidos,

Que como enfeites são tidos.

Mas, para si, não guardar.

Ainda poderão ter

A alegria de usar

Taças áureas ou argênteas

Bebendo, ao festejar

Algo. Mas, por segurança,

Dele e do Estado, herança

Não poderá se tornar.

Pois posse de bens terrenos:

De terras, casas, e ouro

Próprio, q’eles defendiam

Como guardas de um tesouro,

A partir desse momento

Serão causas de tormento,

De sofrimento e desdouro.

E, de nobres defensores

E protetores do Estado,

Tornar-se-ão mercadores

E lavradores, com o fado

Que eles mesmos buscarão

Com a grande confusão

Do desejo malfadado.

O ódio mútuo, as ciladas

Mútuas, os farão temer

Os inimigos internos

Mais que os externos e a ver,

A um passo acelerado,

Sua ruína (a do Estado)

Sem nada poder fazer.

Conclui Platão, como Sócrates,

Que estas foram as razões

Que o levaram a regular

Os bens e as habitações

Dos guerreiros. E a questão

Lança a Glauco: - Sim ou não?

Deve ser Lei? Há questões?

E Glauco que, de acordo

Com Platão, parece estar

Em dúvida em alguns pontos,

Dos quais põe-se a discordar,

No final também ficou

De acordo. E concordou

Com sua forma de educar.

...

Utilizando dois livros

Da República de Platão:

O Segundo e o Terceiro,

Como amor no coração,

Eu tentei me expressar

O melhor para falar

Sobre a educação.

A educação do jovem

Que, no futuro, teria

Sob seu comando a guarda

Da Cidade, ou que seria

Um guerreiro de valor,

Saudável e sem temor.

Que, sem medo, lutaria.

A educação que iria

Dar a importância devida

Ao corpo e também à alma,

E valorizar a vida.

Mas, diz: “Não deves temer

A, pela Pátria, morrer!

Pois: te espera outra vida”.

Uma educação onde as almas

Seriam bem trabalhadas

De forma que, no amor

E no bem, fossem formadas,

Valorizando a verdade,

Onde a mentira e a maldade

Seriam, pois, desprezadas.

Uma educação que diz:

O homem não deve tentar

Fazer o que quer que seja

Que o possa envergonhar.

Falando, após, da harmonia,

Da música e da melodia,

Como forma de educar.

Uma educação que mostra

O belo da perfeição,

E a feiura do excessivo

Onde o fogo da paixão

Queima, mata, esmorece,

E a chama do Amor aquece,

Mansamente, ao homem São.

...

Resta tão somente a mim

Orar a Deus que o leitor

Sirva-se do que foi dito

Aqui. Pois foi com amor,

Realmente, que foi feito.

Assim sendo, sem temor,

Meu coração, com efeito,

Ora, mui bem satisfeito,

Sente-se leve e indolor.

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E prometo aos meus leitores

Que trarei, tão logo possa,

Mais um cordel filosófico

Para a educação da nossa

Criançada brasileira

E, também, para a estrangeira,

Para que não sofra mossa.

E muitos outros virão,

Na seqüência. É promessa!

Com a mesma qualidade

Para que o leitor meça,

Comparando a outro estudo,

Se falo ou não falo tudo

Que ao estudante interessa.

Fim