PELEJA DO DOUTOR X MATUTO

PELEJA DO DOUTOR X MATUTO

LITERATURA DE CORDEL

Roberto Coutinho da Motta

( Bob Motta )

N A T A L – R N

2 0 0 7

Doutor: Matuto, seja benvindo,

aqui à minha cidade.

A Capital do Estado,

cheinha de novidades.

Eu vou lhe mostrar, também,

coisas que você não tem,

na sua localidade.

Matuto: A sua hospitalidade,

eu agradeço, tombém.

Fico inté incabulado,

in sê tratado tão bem.

Lhe digo, de coração:

Qui agradeço a atenção,

qui de bom grado, me vem.

Doutor: Aqui, quando chega alguém,

eu vou logo, de repente,

mostrar-lhe o nosso conforto,

e os costumes da gente.

Como é nosso dia a dia,

como é nossa alegria,

como é nosso ambiente.

Matuto: Eu fico munto cuntente,

quando chega in meu lugá,

um dotô, de ané no dedo,

pru mode nuis visitá.

Eu tombém, logo apresento,

cum grande cuntentamento,

ais coisa do meu lugá.

Doutor: Você vai apreciar,

o metrô, o avião,

a praia, o shopping, lojas,

mulheres lindas, irmão.

Vai ver navio, catraia,

o sol se por lá na praia,

talvez, até tubarão.

Matuto: E o sinhô, no meu sertão,

vai vê munto sufrimento.

Vai vê queima de espíin,

vai vê pega de jumento.

No inverno, vai vê forró,

vai uví o curió,

e munto divirtimento.

Doutor: A todo e qualquer momento,

eu posso lhe oferecer,

wisky do bom, importado,

e completando o lazer;

uma boate famosa,

muitas mulheres gostosas,

prá você espairecer.

Matuto: Lá in nóis, prá voirmicê,

tem uma boa garrafada,

prá alevanta seu astrá,

mode dá uma “chibatada”.

Lindas cabôca facêra,

nais festa de padruêra,

anima a rapaziada.

Doutor: Amigo, na sua estada,

nós temos, prá degustar,

uma lagosta grelhada,

que eu sei; você vai gostar.

Ver um show maravilhoso,

num teatro luxuoso,

de cultura popular.

Matuto: In nóis, p’ru sinhô “traçá”,

tem um “tatu verdadêro”,

numa panela de barro,

debaixo de um juazêro.

Beréu de bêra de istrada,

se gosta de uma putada,

e fô bom rapariguêro.

Doutor:Também sou fã de um puteiro,

pois beréu diverte a gente.

Nós temos coisas iguais,

de maneiras diferentes.

Você, à moda matuta,

também dá valor à puta,

em qualquer um ambiente.

Matuto: Eu sô matuto prá frente,

num quero sabe de intriga.

Quando caio na gandaia,

disprezo logo a fadiga.

Acredite e faça fé;

meu nome é mêrmo qui mé,

na aboca dais rapariga.

Doutor: Gosto também de uma briga,

pois quando a gente se inflama,

quebra o pau, arma barraco,

com a mulher que a gente ama.

E essa briga, eu te digo;

matuto, querido amigo;

sempre termina na cama.

Matuto: Isso aí é qui se chama,

de uma “pinimba” gostosa.

A muié, quanto mais braba,

munto mais apititosa.

Cum nada ela se acanha;

e ais vêiz, quanto mais apanha,

mais a sevéigonha goza.

Doutor: A gente pega uma rosa,

lhe oferece com carinho.

Ela se abre num sorriso,

se chega devagarinho.

Comanda a situação,

pega a gente pela mão,

e carrega p’ro seu ninho.

Matuto: Eu já chego caladíin,

pru detráis dô um abraço.

Uma lambida no pescôço,

aí cumeço uis amasso.

Tiro a rôpa da danada,

bêjo todinha, a safada,

e me deito in seu regaço.

Doutor: Numa dessa é que eu me faço,

falar a verdade é preciso.

O amor fica mais bonito,

quando é feito de improviso.

O fogo chega na hora,

e a gente, sem demora,

se transporta ao paraíso.

Matuto: Dotô, e no improviso,

é uma coisa medonha.

A mente de um poeta,

qui nem eu, tão sevéigonha;

se dana a imaginá,

só pru mode praticá,

ais safadeza qui sonha.

Doutor: É bom que a gente se ponha,

cada qual no seu lugar.

Cada qual no seu costume,

tem bastante amor prá dar.

Porém, uma coisa é fato;

na cidade ou no mato,

é maravilhoso amar.

Matuto: Eu sei qui “é cumo num há”;

meu peito logo se inframa.

Quando vô falá de amô,

in neu se acende uma chama.

E a gente vai se inspirando,

na hora qui tá pensando,

na muié qui a gente ama.

Doutor: Veja o que o destino trama,

Graças a Deus, sim senhor.

Eu falando da cidade,

e você, do interior.

Dos mil costumes da gente,

e eis-nos aqui, de repente,

falando e exaltando o amor.

Matuto: Isso é Nosso Sinhô,

sigundo à sua vontade.

Jogando in riba de nóis,

o amô e a caridade.

Pru mode nóis ispaiá,

in todo e quaiqué lugá,

no sertão ô na cidade.

Doutor: É uma oportunidade,

que temos, nesse momento,

de do Pai Celestial,

sermos os seus instrumentos.

Esse Dom que Êle nos manda,

do infinito, comanda,

lá mesmo, do firmamento.

Matuto: De feliz eu me arrebento,

pru tão bunita missão.

Será qui eu sô capaiz,

de cumpri cum ixatidão ?

Papai do Céu, obrigado;

ispero dá seu recado,

a cada um coração.

Doutor: Eu espero, meu irmão,

que essa carga de amor,

esteja eu, capacitado,

pelas ordens do Senhor;

a espalhar no mundo inteiro,

o que há de mais verdadeiro,

sobre a essência do amor.

Matuto: Tenho certeza qui o sinhô,

vai, num aperto de mão,

num abraço solidáro,

num gesto de cumpreensão;

cum o má vistido ô cum o lorde,

cumpri à risca, essas orde,

qui Deus lhe cunfiô, intão.

Doutor: Acho até que a gente, irmão;

batendo esse papo agora,

nos versos dessa peleja,

cidade e sertão a fora;

nós acendemos a chama,

pois no coração que ama,

a felicidade mora.

Matuto: E ela num vai simbora,

quando incontra guarida.

Solidára, chora a morte,

cuntente, celebra a vida.

A “truvuada de amô”,

acumpanha o trovadô,

no dia a dia, na lida.

Doutor: Jamais estará perdida,

quem ama sem preconceito.

É pessoa iluminada,

num sincronismo perfeito.

Louva a vitória do amigo,

respeita a dor do inimigo,

é um excelente sujeito.

Matuto: Quando pega nóis de êito,

nuis faiz chorá de muntão.

Se a danada da tristeza,

Nuis invade o coração;

pode iscrevê qui é verdade;

Nóis tem solidariedade,

De ôto matuto irmão.

Doutor: Agora, querido irmão,

eu vô lhe dizer de pé,

quem usou nossas imagens,

e por nós, falou com fé.

Sendo da palavra, artista,

apresento o cordelista,

que agora nos diz quem é.

Cordelista: Roberto Coutinho da Motta,

O nome, papai escolheu.

Bob Motta é pseudônimo,

E com êle, assino eu.

Rimo, mostrando em meu verso,

Tudo o que há no universo,

O Dom, foi DEUS quem me deu...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte

Da União Brasileira de Trovadores-UBT-RN

Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio G. do Norte

Da Associação de Poetas Populares do Rio G. do Norte

Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore

Telefone:(0XX84) 3201-2008

Celular:(0XX84) 9965-6080

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: bobmottapoeta.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 01/10/2008
Reeditado em 01/10/2008
Código do texto: T1206213
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