BILINA

HISTÓRIA DE BILINA

Vou contar uma estória

Aqui de minha cidade

Recorro as musas do verso

Pra me darem felicidade,

Quero escrevê-la com amor

Com todo meu coração

Pois se trata de um fato

Passado em meu rincão.

Ipaumirim, em outros tempos

Era um centro promissor

Muitas fábricas funcionando

Emprego tinha um “horror”.

A feira era Domingo

De fora vinham feirantes

Deliciarem-se com as vendas

Nesse local tão distante.

Ipaumirim, no Domingo

Tinha o comércio lotado

Era banca de tudo

Coisa pra todo lado,

Tinha bolo, café quente,

Doce, filhós, rapadura,

Sapatos, cintos e redes,

Óleos, sucos e verdura.

Nesse cenário tão farto

Apareceu a Bilina

Magra, alta, cinqüentona,

Formosa, cintura fina,

Passeando pela feira

Um sapato viu, gostou!

Da banca, do vendedor

Depressa se aproximou.

Qui sapato lindro!

Me diga quanto é?

Será que ele cabe

Bem certinho no meu pé?

O vendedor tão gentil

Colocou-o no pé dela

Fazendo-a sentir-se

Igualzinha a Cinderela.

Bilina se tocou

Com tanta delicadeza

Viu que o vendedor

Era cheio de boniteza,

Apaixonou-se por ele,

Sequer seu nome sabia,

E que também nunca mais

Esse vendedor veria.

Deu-lhe o nome de Pedro,

Passou a sonhar com ele,

Não podia esquecer

Tanta bondade dele!

As pessoas conheceram

O seu doce sentimento,

Um fato, que pra ela

Só lhe gerou sofrimento.

Escreviam muitas cartas

Eivadas de amor e paixão

Alimentando em Bilina

Uma grande ilusão!

Diziam: Pedro enviou

Uma carta pra você,

Passe na minha casa

Que logo vais receber.

Ficavam jogando bola

Com a pobre de Bilina

O que fez a coitada

Pra ter tão triste sina?

Não causava mal

Tampouco desrespeitava,

Tinha um sentimento bom

Que o seu peito abrigava.

Às vezes davam-lhe objetos

Dizendo: “Pedro mandou”

Mas, não está comigo

O Cabo Gomes levou.

Dizia o Seu Vicente

Iludindo a coitada

Que acreditava em tudo

Pois estava apaixonada.

O Seu José Felinto

Às vezes em cena entrava,

Era outro que também

A Bilina enganava

“Vi Pedro em Cajazeiras”

afirmava esse senhor,

“logo que me viu

por você me perguntou”.

Belina morreu de amor!

É o que diz muita gente,

Dói uma grande paixão

Quando sozinha se sente,

Desgasta, maltrata,

Tira-nos o ânimo, a vida,

Se alastra e corrói

Como uma grande ferida.

Enterrou-se de branco,

De noiva ela foi vestida,

Pois casar-se um dia

Foi o sonho de sua vida,

Partiu pra um lugar de paz

Longe de toda maldade

Sei que dessa vida

Nem sequer levou saudade.

Daí surgiram uns termos

Que ainda hoje usamos

Se refere aos dois sexos

E tais palavras falamos

São elas neologismos

Pra tais casos de amor

São vocábulos que ficaram

Quando tudo terminou.

Se alguém na vida

Tem um amor platônico

Todo mundo comenta

Com um acento irônico:

“É uma nova Bilina”,

coitado, ta bilinando,

gosta de alguém

que não está nem ligando.

Nesse mundo enganoso

Fala-se tanto em respeito

Mas ninguém conhece

Essa palavra direito

Se desrespeita o respeito

Se chuta, se joga fora

Em tudo que é lugar

É o desrespeito que rola.

Mas, pagamos caro

Pelos erros que cometemos

Deus é um sábio juiz

Pune pelo que fazemos.

Você só vai colher

Tudo aquilo que plantar,

O seu retorno depende

“do que você semear”.

LUMA

03/08/01