ACASO AMAS?

Vindo por essa trilha

trilhando o mesmo caminho

avistei um passarinho

preso numa armadilha.

A pena se me abateu!

Cuidei-lhes as feridas

em meio a penas partidas,

dialogando ele e eu.

Já estando por ir embora,

disse-lhe que por tal maldade,

pelo privar da liberdade,

até o ser humano chora.

Fitou-me com caridade,

mas também com altivez,

indagou-me se o homem, talvez,

sabe o que é liberdade.

Sim, respondi de pronto,

com o melhor sorriso que tive,

- É assim que o homem vive,

livre como me encontro.

Ai veio seu argumento,

em suave tom sibiloso

com seu olhar amoroso,

e eu ouvindo atento:

“Pode o homem pensar,

pode sentir,

pode até mentir.

e também sonhar!”

“Porem de tudo que sente,

dos seus sonhos e seu pensar,

pode livremente falar,

ou tem vezes que mente?”

“Como livre ele se enxerga,

quando dele brota cobiça,

e o paladar o eriça,

e o possuir o cega?”

“Preso está a cordas tensas,

das soberba e vaidade,

do sexo e da iniqüidade,

e diz-se livre!... Pensas!... “

“È assim a liberdade?

Um cálice de crenças,

um feixe de diferenças,

uma trouxa de saudade?”

“Sentem-se livres por ir e vir

por comer e beber,

por dormir até o sol nascer,

mas serão livres pra servir?”

“Pois afirmo sem enganos

Pra conhecer a liberdade

Só resgatando a idade

da soma de todos os anos.”

“Está no supremo penhor,

de Deus quando tudo criou,

que por nós de ser livre deixou,

E Se fez Prisioneiro do Amor”

Então a mim me perguntou,

firme mas com meiguice,

e antes que perplexo eu partisse,

bateu asas e voou:

“Livre, pois, porque te chamas?

Acaso em alvas nuvens fluís?

Por ventura ris?

Acaso amas?”

Manito