SE O NORDESTE ME DESSE CONDIÇÃO / EU RASGAVA A PASSAGEM MAS NÃO IA!

Hoje olhando o açude esturricado

O roçado murchinho, tão cinzento

Só brotou do meu peito um lamento

Vendo a morte avançar por todo lado

É que a chuva esqueceu o meu Estado

E acabou com a nossa alegria

A viagem marquei, chegou o dia

Vou embora daqui, tem jeito não!

Se o Nordeste me desse condição

Eu rasgava a passagem mas não ia!

Vou embora pois a fome me obriga

A deixar o lugar que tanto amo

Secou tudo, não tem raíz nem ramo

Nada há que engane a barriga

Bucho cheio dos meninos é lombriga

A despensa, meu Deus, está vazia!

Já cansei dessa vida de agonia

Vou buscar pros meus filhos leite e pão

Se o Nordeste me desse condição

Eu rasgava a passagem, mas não ia!

Mote: Celso Olegário

Glosa: Luciene Soares