UM OUTRO REI MAGO - (à moda dos cordéis)

Vestido de surrado

ia só pelo caminho

pé descalço, muita alegria

pois ia ver nascer o menino.

Sabia que era um menino

porque a estrela da ponta contou

elas anunciam coisas boas

como aconteceu em Belém.

No embornal da viagem

além d'uma prenda especial

só sobras da estiagem:

macaxera e um pouco de sal.

Água, ele não tirou dos seus

pois era o mais resistente

e estava cansado de saber

que na pior agrura, Deus provê.

Atravessar o agreste nesse verão

só mesmo pra algo grande

coisa de muita precisão

ou última viagem da gente.

Queria abençoar o novo parente

desejar que fosse feliz

crescesse moreno e valente

sem ter que fugir pro sul do país.

Até a casa do pequeno

muitas léguas pela frente

descansou três vezes

que já não tinha o vigor de sempre.

Toda família era grande

a dele, pequena, única

dizia a quem queria ouvir

que só pouco pra ser bem feito.

Nascia, que também era único,

o primeiro neto do Severino

e por todas aquelas bandas

não haveria melhor menino.

Daria de tudo ao pequeno

até dos agrados que não teve

mas só levava uma prenda embrulhada:

o velho relógio de corda, com pingente.

Lembrou outra vez do moço

que nasceu na manjedoura

tremeu assustado, apertou no passo

e segurou a cruz que trazia no bolso.