O Encontro de Josué,Sabino e Aparício

O ENCONTRO DE JOSUÉ,SABINO E APARÍCIO

O barranqueiro Josué recebe o seu compadre Sabino em sua humilde morada.

Uma palhoça de pau-à-pique, à beira do Rio das Velhas, mas de uma luz e um aconchego!

A Teresa, sua mulher, não se cansava de dizer:

- Vivê aqui pra nóis é um paraíso!

O Josué em sua rede , enrolando um cigarrinho de palha e de repente chega o seu compadre Sabino.

E o Josué:

Josué

- Chegue meu cumpade

Pode se ajeitá

Arraste uma cadêra

Vamo proseá!

Um dedo de prosa

Faz bem a minha alma

Tudo se acarma

Com o teu chegá.

É o nosso costume

É um santuáro

Onde o povo leva

Toda sua fé

A minha Teresa

Foi lá pra cuzinha

Tá filiz da vida

Coano o café.

Cumpade eu sô

Um homem filiz

Viveno aqui

Nesse meu sertão

Tô longe

De promessas farsas

Que os home fizero

À essa nação.

Aqui os meu zóio

Se abre mais cedo

Vejo a passarada

Fazeno a canção

Ao pôr do sol

Pego a viola

Toco uma moda

Pro meu nobre sertão.

Na singela cama

Enrosco na Teresa

Sonho com as vereda

Ao alvoricê

Seu corpo é uma brasa

Me inflama e me chama

Ela é minha dona

É o meu vivê.

Na madrugada

Pego a canoa

Vô rio acima

Cumpro a minha sina

É o alimento pra mode cumê

Diz aí meu cumpade!

O que o sinhô

Veio aqui fazê?

Sabino

- Óia meu cumpade

Vim até ocê

Mode a sodade

Disaparicê

Fui enganado

Pelas lei de home

Tudo me consome

É um padicê.

Eu já vendi

Inté a minha viola

Para aos meus fio

Dá o de cumê.

A Maria chora

Quase todo dia

Fala em vim embora

Pra não mais sofrê.

No finá de tarde

É uma curriria

É um tá de trânsto

Pra gente passá

E de manhã bem cedo

Mais um arvoroço

Impedino os pássoro

Inté de cantá.

Eu sinto farta da minha tarrafa

Da minha canoa

Da minha rede

E do meu pescá

E toda tardinha

A Maria e os meus fio

Na bêra do rio

A me isperá.

O peso era muitio

Pois tava cheio

O meu samburá

Eu vim inté aqui meu cumpade

Pra ver se o sinhô

Pode me ajudá

Pidi num é pecado

E a nossa amizade há de prusperá.

Josué

- Pode vim embora cumpade

Será um prazê

Aqui a terra é nossa

E há de floriscê

Quem nasce no campo

Sabe o que é vivê

E nossa amizade

Nunca há de morrê!

Chegue meu cumpade

Pode se ajeitá

Arraste uma cadêra

Vamo proseá!

Um dedo de prosa

Faz bem a minha alma

Tudo se acarma

Com o seu chegá.

Nas nôte de lua cheia

Eu fico à alembrá

Das moda que nóis fazia

Lá nas banda do Aporá

Nossa viola ponteava bonito

Cortava no reio

E a sanfona chorava

Pra mode dançá.

Lá eu cunheci a minha Teresa

Muié formosa de arripiá

E o sinhô cunheceu a Maria

Do sorriso mais bonito

Daquele lugá

Vamo cumpade dêxa de tristeza

Conta logo um causo

Pra nóis se alegrá.

Sabino

- Óia cumpade!

Eu me alembro daquele dia

Em que nóis foi pescá

Nas banda do Véio Chico

Um lindo lugá

Incontremo o Apariço

Caboclo bão e generoso

Que mostrô as fotografia daquele lugá.

E que o sinhô imocionado

Cumeçô logo a chorá!

Em vê a mardade que os home

Fazia ao maltratá

Aquele lindo cenáro

Que estava por acabá

Diga meu cumpade o que fez a fotografia

Ao sinhô imocioná?

Josué

- Meu nobre cumpade!

O sinhô ta alembrado

Que foi o discaso do home

Que tudo consome

Que caba com a natureza

E dispois é a gente que some

O que mais me deixô triste

Foi vê o povo cum fome....

Sabino

- Sabe cumpade!

Esse mundo tá virano um rebuliço

Ainda bem que nóis tem

Um cabra como o Apariço

É um guardião do rio

E todo mundo sabe disso!

Esse foi o meu causo cumpade

E num quero pensá mais nisso!

Josué

- Óia cumpade!

Vamo dêxá de lorota

Pode trazê a famia

E vortá aqui pra roça.

Eu vou ajeitá um cantin

Pra mode o sinhô e a famia

Morá perto de mim.

Num ixiste amizade mió que a nossa.

Cumpade vô lhe presentiá

Cum uma faxa de terreno

Lá tem uma paioça piquena

Mais dá pra famia morá.

Tem uns pezin de fêjão

No brejo o arrois já cacheô

Tem uma vaquinha boa de leite

Galinha e um galo cantadô.

Vamo rezá pra mode chuvê

E a nossa coiêta vai sê uma fartura

Juêio no chão pra agridicê

Nossa bataia que sempre foi dura.

O pôco que eu tenho

Dá pros dias meu

Vô dividi cum o sinhô

A pidido de Deus.

Larga a cidade grande

E vem me ajudá

A cuidá dos rio e do sertão

Pra todo mundo apriciá

Óia quem vem lá cumpade!

Em carne e osso!

É o Apariço!

Aquele gentil moço pra fotografá.

Vamo uni ao Apariço

Ele vai mostrá as beleza

Do nosso doce lugá!

Vá logo cumpade

Buscá a sua famia

Pra ela presenciá

quero uma fotografia bem bunita!

Pra nóis sempre arrecordá.

Aparicio

- Que belezura meus amigos

É o dia com um dedo de prosa

Ao embrenhar no sertão

Senti o cheiro da rosa

Amigo é pra toda vida

E deixa a caminhada formosa

Perfuma versando a lida

A alma fica charmosa

Vento todo garboso

A rara essência a espalhar

As matas em mistério e silêncio

O cerrado seus frutos brotar

O rio em mim lágrimas

Corredeiras à luz do luar

Vida madrugadeira

Revoada manhã meu cantar.

Sabino

- Meu sertão amado!

Inté dá vontade de chorá!

Naquilo a natureza se alvoroçou!

O rio cantou através das corredeiras e o silêncio dos pássaros foi

quebrado,e o desejo de homens de fé agigantou-se em nome da natureza.

...as águas vão seguindo seus cursos

E homens sensatos ficam...

O poder do Supremo

Fortalece almas!

E intrépidos guerreiros

Defendem a natureza!...

FIM

Tinga das Gerais

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 01/01/2009
Reeditado em 22/09/2017
Código do texto: T1362119
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