O Segredo dos Anjos - a sabedoria do matuto

Quando num existia nada

no começo do universo

quando Deus criou nóis tudo

ficou pasmo, quase mudo

com a criatura criada

e querendo lambê a cria

feiz o céu, redoma de vidro

pra nos protegê dos pirigo

e de tudo o mal lá fora

Mas viu que num dava certo

Se preguntô: “e agora?”

“Comé que eles vão respirá?”

Pensou em tirá a redoma

Abrir o céu duma veiz

Quem sabe,

Uma idéia, tarveiz...

Só que Deus tinha um problema

Tinha seus filho lá de cima

Que tomém era tudo danado

Vira e mexe um revortado

Quiria do Pai se esquivá

Foi quando veio a idéia

E o céu foi todo furado

Pra luz do sol poder passá

E tomém pra ventilá

Pra gente não morrer assado

E os furo foi piquinininho

Que é pros anjo num escapá

Descer pra esse mundo virado

despois num querê vortá

Vigi santa, que disgraceira

aí Deus ficava suzinho

sem ninguém pra aperriá

o juízo do Coitado

Óia, isso num ia prestá

Intão Ele aborrecido

triste com a solidão

decidia de veiz intão

deixá de cuidá de nóis

Aí pronto, num ia te vóiz,

nem grito, nem choro, nem vela

ladainha, churumela

agora memo que sim

que tudo tava perdido

o mundo ia se danar

Nóis tudo ia se lascar

Aiii os anjo num pode escapa!

Senão vira coisa do demo

Vixe, isso é tudo que eu mais temo

Já pensou o mundo sem Deus?

Que pisero que ia virá...

E como que havera de ser?

Como os home ia vivê?

Ia ser memo de dar dó

Feito minino criado com vó

Tudo mimano, safado

que num escuita conselho

Tudo uns bando de fedelho

É nisso que ia dar

Sem a mão forte do Home

Que uns fingi nem acreditá

Mas que quando passa uns aperto

Ajoelha e se dana a rezá

E o Pai ouve paciente

Escuita sem pestanejá

É como diz o ditado

Ele é Pai, num é padrasto

Quem é burro come pasto

Nem por isso é menos amado

Pelo pai celestiar

Mas vortando a prosa véia

Sem muita prosopopéia

Que o meu boi num quer durmi

Eu só vim de lá aqui

Pra mode poder expricá

Que o céu na verdade é peneira

E essa história de estrela

É só memo pra enganá

Os trouxa daqui de baixo

E ninguém desconfiá

Que todo segredo da História

É os anjo num escapá!