MANOMÓVEL

Foi ele, junto com o negro, sofredor de cada dia

Sem fundo de garantia, nem seguro desemprego.

O bom automóvel que não poluía,

Sob a luz do dia ou sob o luar,

Em duras jornadas de prantos e dores

Prestou mil favores, de graça a lutar.

De tudo ele fez com assaz prontidão:

A estrada de chão ganhou calçamento

A cana chegou, bem ao pé do engenho

Mandioca e o lenho, no aviamento.

Ele fez de tudo naquelas veredas

Entre labaredas, corisco, trovão

Transpôs os desertos de sol causticante

Num inferno de Dante, fez centro o sertão.

Transportando pedra, tijolo, cimento

Sofrendo o tormento do lombo ferido;

Mas, bem orgulhoso, manteve o padrão

Té que o caminhão tivesse surgido.

Com tal advento, pensou descansar

Mas esse pensar se tornara lamento;

Nem da amizade obteve o cultivo:

– Pra que deixar vivo nas ruas jumento?

Ó Jegue, meu mano, valoroso amigo

Tangeste comigo o progresso um dia;

E agora que está de pé meu país,

Fincam o teu nariz sob a terra fria!

Antonio Leal
Enviado por Antonio Leal em 20/01/2009
Reeditado em 02/03/2009
Código do texto: T1395631
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