Caminhantes/amantes/errantes...

Quando meu pai me fêz

era moço bem disposto

Seis filhos, um de cada mês

numa vida de muito gosto

cantava as duras da lida

com enxada, foice e facão

enganava a dureza da vida

com acordes de acordeon

imigrante da guerra fugidio

saiu da Rússia ainda menino

junto com os pais e mais um tio

sem saber onde seria seu destino

Numa terra distante ele pensou

sem guerra sem fome sem prantos

muitos dias no mar doente passou

até chegar no Porto de Santos

para o interior do país aventurou

com medo das forças armadas

seu nome nunca por nada mencionou

se fêz homem decente em outras paradas

conheceu minha mãe de boa família

abastada e de grande respeito

casaram-se de comum partilha

e foram criar os filhos do mesmo jeito

quinze anos foi o tempo que durou

a alegria daquele casal estimado

depois disso o encanto se quebrou

e cada um foi pra seu lado

os filhos com a mãe ficaram

e choravam a saudade do pai

nunca mais se falaram

nunca se ouviu um ai

as coisas que a vida nos tráz

por vezes causam fraturas

que não se consertam jamais

e se seguem em desventuras

o pai fêz outros meninos

a mãe, ficou sempre amargurada

lamentando sina dos destinos

que lhe fêz abandonada

outros irmãos tenho pelo mundo

que nem seus nomes conheço

e eles nem sabem que no fundo

com eles me pareço

que estranha forma essa agora

de ver as coisas deste jeito

se de tudo que foi embora

meu pai mora em meu peito

já não quero entender

o que foi que aconteceu

pois percebo o entardecer

de um sol que se escondeu

e as dores que a mãe sentiu

por certo foram as mais sentidas

por isso nunca mais sorriu

as suas alegrias perdidas

a alma sente a devassidão

de um amor que se desfaz

E o corpo reclama a solidão

que a outra parte não satisfaz

a vida segue inquieta pendente

como dor e teimosia irrascíveis

e ainda se chora de contente

com as alegrias possíveis

os anos que se apercebem de nós

nos dizem da lamentação

dos corações que sofrem sós

carregando uma vazia emoção

ainda queria saber de malparado

quem pode me contrariar

deste amargo desatado

quem sabe o que é amar?

onde estão os sonhos dos amantes

que velejam juntos por ondas imensas

criando certos caminhos, errantes,

com flores, beijos paixão intensas

e quem sabe por onde irá voar

o sentimento mais dedicado

daquele que sabe doar

o amor sem ser amado?

Já não sei cantar essa canção

que bate forte em meu pulsar

querendo abrir meu coração

pra que eu possa enfim amar

quem poderá então se afastar

da solidão que malfadada

não permite a alma voar

pra outra vibrante jornada?

E tudo que velo nesse momento remido

é um desejo que se faz forte debulhar

da infância trago um doce sentido

Com Pai e Mãe pra me abraçar...

NENINHA ROCHA
Enviado por NENINHA ROCHA em 19/04/2006
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