MOTE E GLOSA I - "Se a morte for um descanso, prefiro viver cansado."
MOTE (*)
“Se a morte for um descanso, prefiro viver cansado”
GLOSA (*)
Eu procuro dia e noite,
Noite e dia, nesta vida.
Que, se a vida é açoite,
Eu quero viver açoitado.
De que me adianta o remanso,
Viver para sempre deitado?
"Se a morte for um descanso,
Prefiro viver cansado!"
Trabalho que nem um mouro
E isto é coisa sabida.
Não é fácil a minha vida,
Nem posso ser descuidado.
Se cochilo, eu logo "danço".
E acordo espantado:
“Se a morte for um descanso,
Prefiro viver cansado".
A jornada muito louca
Desta vida, é trabalheira.
A grana é sempre pouca
E bastante, só a canseira,
Na rede eu não me balanço,
Para não chegar atrasado:
“Se a morte for um descanso,
Prefiro viver cansado".
(*) Para quem não sabe, embora muitos o saibam, na linguagem dos "repentistas" nordestinos, MOTE é o motivo, a provocação que o desafiante faz ao desafiado, para que desenvolva um tema, geralmente expresso na forma de um verso, que conclui a glosa.
E GLOSA, por consequência, é a resposta — o repente, propriamente dito — com que o desafiado mostra ao desafiante que está capacitado a desenvolver o tema proposto.