MOTE E GLOSA II - "Com tanta modernidade, o mundo não teje mais..."
MOTE:
“Com tanta modernidade, o mundo não teje mais...” (*)
GLOSA:
No meu tempo de criança,
O mundo não era igual.
Inda trago a lembrança
De uma vida natural.
Eu lembro com saudade
Daquele tempo de paz:
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
Neste mundo muito louco
Em que vivemos agora,
O prazer parece pouco
Pra quem prazer adora.
O bem deu lugar à maldade
E o homem não sabe o que faz:
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
Eu sou cidadão do mundo
Que a vida me fez conhecer.
Guardo um respeito profundo
Por quem me ensinou a viver.
E mesmo na maturidade,
Ainda venero meus pais:
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
Não vou ficar no lamento
Do que ficou para trás.
Saudosismo eu não aguento,
E também não satisfaz.
Porque, na realidade,
E isto não se desfaz,
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
Eu vi o Céu e o Inferno,
Vi Deus e vi Satanás.
Nada no mundo é eterno:
Nem a guerra ou, mesmo, a paz.
Eu sei que não há idade.
Nasci há mil anos atrás:
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
Quando eu era bem pequeno,
De muito pouco, capaz,
O pensamento sereno,
Meu sonho era ser rapaz.
Quando chegou a idade,
E quando olho pra trás,
“Com tanta modernidade,
O mundo não teje mais...”
(*) “O mundo não teje mais” é uma expressão típica, um regionalismo, de certas áreas do interior nordestino, que equivale a dizer “o mundo não é mais o mesmo”, “o mundo não está mais do mesmo jeito” ou “o mundo não é mais aquele”...