ATRITO CONJUGAL

***

"O marido só dormia

sua mulher lhe espiava

e dia e noite, noite e dia

pela cama ele rolava

era este o motivo

da briga que se travava"

***

ela

– Acorda seu vagabundo

levanta e vai trabalhar

perdi mesmo meu juízo

na hora em que fui casar

com essa maldita coisa

que leva a vida a roncar

a minha maior tristeza

foi eu ter te conhecido.

melhor seria morrer

do que ter casado contigo.

eu merecia melhor coisa

e pouco tinha sofrido

ele

– Vê se fecha essa matraca

e não me infernize o juízo

senão eu pulo daqui

e acabo logo contigo

te dou um murro na cara

e te sóco até o umbigo.

porque não cala essa boca

tu nem sabe o quê é que diz!

Se ficar me buzinando

eu vou te quebrar o nariz

não tenho nenhuma culpa

se tu te acha infeliz.

ela

– Como não sou infeliz

vivendo do jeito que estou?

Morro passando fome

e tu ai, no maior “flosor”.

Certo mesmo era o meu pai

que só te igualava a um cocô.

ele

– Teu pai era um sem-vergonha,

um cafajeste beberrão,

um tremendo vagabundo

bebedor de todo balcão.

Falador da vida alheia

e fedorento como um cão

ela

– Não fale mal do meu pai,

sem ele tu não me tem.

Tu é que não vale nada,

Tu não vale nem um vintém.

E... pare de se gabar

que é um homem de bem

ele

- Eu sou um homem de bem

e isto eu já te provei.

Não foi à toa neste mundo

que contigo me casei

e a prova está bem ai:

um belo filho eu te dei.

ela

– Grande merda ter um filho.

Qualquer cachorro pode ter.

Mas eu sou u’a mulé direita

e com ninguém fui me envolver

hoje eu morro arrependida

por ter casado com você.

ele

– Como assim arrependida,

se tudo de bom eu te dou?

Te dou cama, mesa e banho

carinho e bastante amor.

Deixa desse falatório

e... deita aqui, minha flor!

ela

– Como assim... homem de bem?

Não me faça achar graça!

Tu não cuida nem de um filho

que já cresceu, tá na pirraça,

e mais magro que um graveto

de tanta fome que passa

ele

– Sim, eu gosto muito de tu,

tu sempre foi meu amor

só quero viver assim

do jeito simples que eu sou

pra estar sempre ao teu lado

na alegria, tristeza e dor.

Não foi isso que juramos

no momento do casório?

Não quero mais lenga-lenga

nem tampouco falatório.

Da cama só saio morto

e nem passo no purgatório.

ela

– Alguém daqui vai morrer

se a vida assim prosseguir

não temos o que comer

e nem da cama tu quer sair

eu vou é sumir no mundo

Mas não fico mais aqui.

ele

– Vai pra puta que pariu

com esse teu nhém, nhém, nhém!

tu só pensa em riqueza

sem nunca ter um vintém

assim não há quem te agüente

viver assim não convém.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 04/05/2006
Reeditado em 08/11/2008
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