A Tonha das Labaredas e a Déia Canabrava

A Tonha das Labaredas

E a Déia Canabrava

São as duas fofoqueiras

Da Travessa Guaiandava

Vivem falando dos outros

Nas horas da vida inteira

Não posso me acostumar

Com tanta gente a falar

Dos atos da vida alheia!

Falam de toda a gente

E sobem pela ladeira

Falam do Padre coitado

Do Pastor e das rendeiras

Lá na praça, em todo lado

Fofocam de boca cheia

Não posso me acostumar

Com tanta gente a falar

Dos atos da vida alheia!

À noite chegando em casa

Ao marido fofoqueiam

Falam do Lula, do Papa.

O tempo todo incendeiam

Falam do Barack Obama

Enquanto elas proseiam

Não posso me acostumar

Com tanta gente a falar

Dos atos da vida alheia!

De quem ta vivo elas falam

De má noticia semeiam

De quem tá morto também

E nem mesmo se envermeiam

Teja quieto, teja em paz

Num importa se esperneia

Não posso me acostumar

Com tanta gente a falar

Dos atos da vida alheia!

Essas duas tem a língua

Que em toda Vila serpeia

De tanto o mal falar

O povo fecha as oreias

O povo sofre um bocado

E vivem de mente cheia

Não posso me acostumar

Com tanta gente a falar

Dos atos da vida alheia!

Uma noite elas morreram

Era noite de lua cheia

Enquanto elas fofocavam

Um carro correndo freia

Jogando as duas no asfalto

E o carro se escafedeia!

Agora ficou tranqüila

Toda aquela vila

Ninguém lá mais fofoqueia!

Não posso me acostumar

Sem ter as duas a falar

Dos atos da vida alheia!

Thales de Athayde
Enviado por Thales de Athayde em 31/03/2009
Reeditado em 01/04/2009
Código do texto: T1515587
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