A Tonha das Labaredas e a Déia Canabrava
A Tonha das Labaredas
E a Déia Canabrava
São as duas fofoqueiras
Da Travessa Guaiandava
Vivem falando dos outros
Nas horas da vida inteira
Não posso me acostumar
Com tanta gente a falar
Dos atos da vida alheia!
Falam de toda a gente
E sobem pela ladeira
Falam do Padre coitado
Do Pastor e das rendeiras
Lá na praça, em todo lado
Fofocam de boca cheia
Não posso me acostumar
Com tanta gente a falar
Dos atos da vida alheia!
À noite chegando em casa
Ao marido fofoqueiam
Falam do Lula, do Papa.
O tempo todo incendeiam
Falam do Barack Obama
Enquanto elas proseiam
Não posso me acostumar
Com tanta gente a falar
Dos atos da vida alheia!
De quem ta vivo elas falam
De má noticia semeiam
De quem tá morto também
E nem mesmo se envermeiam
Teja quieto, teja em paz
Num importa se esperneia
Não posso me acostumar
Com tanta gente a falar
Dos atos da vida alheia!
Essas duas tem a língua
Que em toda Vila serpeia
De tanto o mal falar
O povo fecha as oreias
O povo sofre um bocado
E vivem de mente cheia
Não posso me acostumar
Com tanta gente a falar
Dos atos da vida alheia!
Uma noite elas morreram
Era noite de lua cheia
Enquanto elas fofocavam
Um carro correndo freia
Jogando as duas no asfalto
E o carro se escafedeia!
Agora ficou tranqüila
Toda aquela vila
Ninguém lá mais fofoqueia!
Não posso me acostumar
Sem ter as duas a falar
Dos atos da vida alheia!