Apologia ao Homem do Campo

Uma choupana singela

Arvoredos rodeando

Completam a cena tão bela

Crianças descalças, brincando

Céu azul cheio de aroma

Fumaça sobre o telhado

De longe já se assoma o gosto de lar roçado...

O riacho murmurando

Na brisa que o acalenta

Propaga o cotidiano

Em cantiga sonolenta

O coração do caboclo

Traz em si inspiração

Da vida, espera bem pouco

Pois a roça é seu quinhão

Sua cultura é arraigada

Em lendas, crenças histórias

Sua alma é fascinada

Pelas incríveis paródias

Teme o saci pererê

Negrinho da traição

À noite, tudo o que vê

Sugere-lhe assombração!

Seu linguajar de peão

Seu jeito de caminhar

Compõem a tradição

Saudosista, do lugar

Na modinha sertaneja

Há beleza, há verdade

Conta o que a alma deseja

Com muita simplicidade

O tacho, fogão a lenha

A lavoura, a mangueira

São do caboclo uma senha

Que o assegura a vida inteira

O arroz bem cozidinho

Feijão com paio e lingüiça

Virado brasileirinho

E depois, muita preguiça!

Cavalga firme o alazão

No ginete aferroado

Carrega no matolão

O que lhe for precisado

O verde pasto o inspira

No caminho do paiol

Tudo é festa pro caipira

Que trabalha sol a sol

Boiadeiro ágil, forte

Destemido lutador

Traça coragem na sorte

Lança sem medo o amor

Com seu sossego latente

Vai cumprindo a obrigação

Traz o sorriso contente

E a ferramenta na mão

Abriga-se do sol ardente

Na sombra que o agasalha

Percorre o campo, imponente

Com o seu chapéu de palha

Sorri olhando a mata

Beleza de raro esplendor

Seu coração arrebata

À obra do Criador

Sob o céu adormecido

A moçada se esquece

De mais um dia vencido

Comprido como uma prece

É hora da rendição

Ao cansaço de um dia

Canta sua ilusão

No sonho da melodia

Enfim bate-lhe o sono

Descanso justo o seu!

Vai para casa o colono

Como bom filho de Deus...

Adormece sossegado

Não se preocupa em sonhar

Simplório, dorme pesado

Na segurança do lar

Lá no alto da porteira

Há uma placa que diz

De uma forma ligeira

Como o caboclo é feliz

Impresso em rude letreiro

Algo mais ou menos assim

“Esse mundo de gibreiro

é o universo pra mim “.

Priscila de Loureiro Coelho

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 14/01/2005
Código do texto: T1573