FAZENDEIRO INGRATO

Fazendeiro Ingrato

Um vaqueiro já idoso

Que serviu tanto ao patrão

Foi dispensado porque

Não tinha mais condição

De trabalhar na fazenda

E recebeu como renda

Somente a ingratidão

O patrão disse pra ele:

Vou ter que lhe dispensar

Eu não posso mais manter

Vaqueiro sem trabalhar

Você foi bom no passado

Já hoje velho e cansado

Não pode mais campear

Eu tenho lá na cidade

Uma casinha fechada

Se quiser nela morar

Faço um preço camarada

Me responda urgentemente

Porque já tem pretendente

Pela casa interessada

Na cidade você pode

Arranjar algum trabalho

Catar lixo ou viver

De biscate e quebra-galho

Ou então tomar cachaça

Passando o dia na praça

Jogando dama e baralho

Depois de tudo que ouviu

Daquele patrão ingrato

Chorando o vaqueiro disse:

Doutor eu nasci no mato

Me acostumei com os bichos

E não vou viver nos lixos

Dividindo o pão com rato

De cachaça sempre fui

Um poderoso inimigo

Eu nunca bebi sozinho

Nunca farrei com amigo

O senhor deve saber

O que acabou de dizer

Não pode dizer comigo.

Derramei o meu suor

Trabalhando pro senhor

Seu gado todo zelei

Com carinho e com amor

Levei chifrada de touro

Que a ponta arrancava o couro

Mas eu nem sentia dor

Quantas vezes me arranhei

Por dentro dos matagais

Perseguindo marruá

Veloz e brabo demais

Fiz de tudo quanto pude

Hoje velho e sem saúde

O patrão não me quer mais

Levei centenas de coices

Dos cavalos que amansei

As quedas de burros xucros

Foram tantas que nem sei

Mas nenhuma me atingiu

Me doeu e me feriu

Como esta que levei

Vou deixar sua fazenda

Arreios e animais

Me despedir do seu gado

Dos cercados e currais

Eu garanto pro senhor

Que enquanto vivo for

Não piso aqui nunca mais

Eu só lhe peço uma coisa

Para o senhor se lembrar

O que hoje estou passando

O patrão pode passar

Viver num canto isolado

Rico, porém desprezado

Quando a velhice chegar.

Paulo Robério Rafael Marques

PAULO ROBERIO
Enviado por PAULO ROBERIO em 17/05/2006
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