CASAMENTO MATUTO

No meio de uma festança de São João, o pai da noiva entra com muita raiva e dá um tiro pra cima, falando em voz alta após o corre-corre:

PAI - Terêncio

1-Vamo pará com esse furdunço, que agora quero sabê

Quem foi o fio duha égua, que teve a corage de fazê

O que fêis com minha fia, mexeu com a minha famia

Agora comigo vai se vê!

2 - ô Felomena sua molenga, traga Rubina pra cá

Que eu vou mandá buscá o tarado, que é pro mói desse safado

Chegá pra mim e se expricá!

A mãe ( Dobna Felomena ) chega puxando a filha ( Rubina) pelo braço com fisionomia aperriada:

MÃE - Felomena

Rubina minha fia, tenha cuidado não

Seu pai arresolve tudo, ele tá virado no cão

Se Juvená não casá, bom pra ele não vai dá

Vai acabá debaixo do chão.

O Coronel intervém puxando a filha pra perto dele:

PAI - Terêncio

ô Rubina meu dócinho, vem cá, vamo cunversá

Diz a graça desse sujeito, que é pro mode me situar

Vô pegá esse mocinho, e aprumo ele diretinho

Se com ocê ele num for casar.

A filha fala com voz desanimada e olhar morteiro:

FILHA - Rubina

Carece não meu pai, Juvenal não me qué mais

Ele gosta é de outras moça, como é danado esse rapaz

Comigo fez o que quis... primeiro me fez feliz

Depois me passô pra trás.

A mãe consola a filha interrompendo o diálogo:

MÃE – Felomena

Se pricupe não minha fia, de hoje ele num escapa

Ou ele se casa com minha fia, ou ele vai entrar na faca

Fia minha é moça direita, coisa fina, não se injeita

Ocê é mermo que ouro e prata.

O coronel irado manda chamar o capataz!

PAI – Terêncio

Juvino, lasera imprestável, vá chamá seu capataz

Procure no céu ou no inferno, mas me traga esse rapaz

Ou ele se casa com Rubina, ou vai ter a triste sina

De num viver nunca mais.

O Capanga chega correndo e se põe em prontidão:

CAPANGA - Juvino

Sim sinhô meu patrão, eu não vou me demorá

Saio e vorto num minuto, sua vontade vai vingar

Trago esse infeliz agora, vou e vorto sem demora

E arrasto o infeliz pra cá.

A filha pede com ar de carência ao pai:

FILHA – Rubina

Ô meu pai traga Juvenal pra cá, ele é um moço direito

Ele tem como se expricá, acho que num tem trabaio

Por isso é um home faio, e não tem como se casá

Em pouco tempo o noivo vem arrastado pelos capangas:

CAPATAZ - Torquato

Tá aqui coroné, trouxe o sujeito que o senhor pediu

Já tava saindo as pressa, comprou passage pra ir pro rio

Mas do senhor ninguém escapa, hoje ele casa e vai ser na faca

A casa pra ele caiu.

O pai segura o noivo pela beca e esbraveja:

PAI - Terêncio

Muito bem caba safado, venha dizer o que tu fez

Dizonrrô minha fia coitada, e fugiu faz mais de mês

Pois num tem expricação, se arrume seu fio do cão

Que hoje tu casa de vez.

O noivo com voz de choro e ajoelhado suplica:

NOIVO - Juvenal

1 - Eu gosto de sua fia coroné, mas num posso me casá

Andei aprontando arguma, to pertim de me lascar

Tomei uns goró na budega, bebi que só um fi dua égua

E saí de lá sem pagar.

2 - Num trabalho, num tem serviço,nium fazendeiro me qué

Dão preferência aos casado, que tem fio e tem muié

Vou procurar em outro canto, No Rio, no Espírito Santo

Ou onde mais longe eu puder.

O coroné muda a fisionomia de bravo e conclui:

PAI - Terêncio

Pois se apoquente não, serviço aqui num vai faltar

Tu casa com minha fia, e pra mim tu vai trabaiá

E vê se num responda não, que eu te meto meu facão

E boto tu pra mancar.

A filha toma o facão da mão do pai e defende o noivo:

FILHA – Rubina

Ô meu pai ele ta com medo, não assuste o bichinho não

O senhor arresolve tudo, não precisa de facão

Mande chamar o padre, seu cumpade, sua cumade

E vamos fazer um festão.

Os personagens saem e voltam no próximo cenário pronto para o casamento. Inicia-se a celebração com a entrada do noivo arrastado pelos capangas ao som da marcha fúnebre e a entrada da noiva ao som da marcha nupcial.

PADRE – Pe. Joaquim

1 - Bem meus fio querido, Aqui tô eu novamente

Pra celebrá um casamento, ou missa de corpo presente

Saí de longe correno, pra esse pedido atendeno

Casá esse casal decente.

2 – Seu coroné tá feliz, dona felomena também

Mas se tiver alguém triste, com esta festa de bem

Que fale agora, intonse cale, Pra séclo sem fim amém!

Aparece uma jovem grávida aos gritos do meio dos convidados e interrompe o casamento.

KENGA - Dolores

Eu quero falá seu pade, Óia do jeito que eu tô

E foi essa caba de pêia, o home que me imbuxô

Pois para o casório agora, que eu aqui sem demora

Vou declará meu amô.

Entra um fundo musical suave e a kenga fala em voz doce acariciando o rosto de Juvenal:

2 - ô Juvenal faz isso não, se lembra de nós dois e seu fio

Não foi isso que tu prometeu, lá na roça atrás dos mio

Se tu casa com ela agora, Te juro que vou me embora

Vou pra casa do meu tio.

O noivo quebra o clima dando um empurrão na kenga e falando:

NOIVO - Juvenal

Pois já divia ter ido, tá demorando demais

Eu tô me casando agora, e num posso voltá atrás

Já esse fio não é meu, disseram que é do Tadeu

O fio de seu Juca Bráz.

Nesse momento ele aponta para os convidados e o Tadeu sai correndo enquanto os capangas vão atrás!

A filha com voz aflitiva intervém e pede ao pai aos prantos:

FILHA – Rubina

Ô Meu Pai tome providênça, Ó o que ela quer fazê?

Vai acabá com meu casório, como é que assim vou vivê?

Tá pondo fim na minha festa, uma situação feito essa

É muito mio morrê ...

Debruçada no ombro da mãe ela chora! O coroné ordena:

PAI - Terêncio

1 - Vamo acabá com essa munganga, o tempo já tá passando

Torquato, pegue essa moça, pra fora daqui vai levando

Vamos cuidá na lida, que essa muié da vida

Aqui só ta atrapaiando.

2 -Continue seu pade, agora, mas tempo num vou perdê

Tô aqui morrendo de fome, tem um churrascão pra eu cumê

Casa logo Rubina minha fia, e vamos reuni a famía

Que é pra nós festejá e bebê!

O padre retoma o casório e a kenga sai arrastada pelos capangas:

PADRE – Pe. Joaquim

Pois diferente num seja, meu amigo seu coroné

Juvenal você e Rubina, já são marido e muié

Que cada um pegue seu pá, e mostre mermo o que é dançá

E seja lá o que Deus quiser.

Daí, começa a música ao vivo e os convidados e atores formam a quadrilha

Marcos Sena
Enviado por Marcos Sena em 06/06/2009
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T1635082
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