O levante dos Mineiros

Triste sina, agora eu vou contar

De alguém que lutava pelo próximo

E queria um pedaço de terra pra lavrar

De uma mulher que era um paradoxo

Que movia os inertes, e os fazia sonhar

Que aborrecia o político, e seu sofismo

Deixo os adjetivos, para á historia falar

De Maria de Nazaré Sousa Mineiro

Imigrante no Estado do Amapá

E este solo, ela amou por inteiro

E a situação do povo daqui quis mudar

No Jarí, começou seu roteiro

Sem saber, onde iria terminar

As terras da união, não pertencem a você

Assim, ela começou a plantar

Na certeza que o bem iria trazer

Conterrâneos, começou a arrebanhar

A nova Canudos nos vamos fazer

A fome, não vai mais te açoitar

Era a pregação, em tom socialista

Vem com a tua enxada, vem cavar

Porem os grileiros, e anarquistas

Começaram contra ela maquinar

Mas vencia a idéia humanista

Mesmo quando começaram lhe ameaçar.

Políticos, logo queriam se unir a massa

E convidavam Maria, pra se filiar

Em partidos com políticas de faça

E diziam que queriam lhe ajudar

Mas Maria, queria o coletivo da raça

Dizia: não basta o dinheiro pra comprar

Quando promessas trazem infrações

Não bastam as palavras, pra mudar

Quando elas só nós causam ilusões

Não quero, e não basta só eu, ou tu ganhar

Enquanto meus vizinhos fazem lamentações

Nazaré foi mostrando seu valor

E o povo começou a acreditar

Na mulher que tinha palavras de teor

E com os políticos não quis se misturar

Preferindo a enxada, e o labor

Pra combater a miséria, é plantar

A Mineiro veio do maranhão

Apostando na empresa Jarí

Para voltar rica ao seu quinhão

Mas a situação não mudou aqui

Muito trabalho e pouco pão

A historia queria se repetir

Uma associação ela fundou

O órgão do governo disse não

Mas uma vez Maria acreditou

E foi falar com o Conceição

Um decreto ele editou

Contra as terras sem produção

Os posseiros não gostaram

E se unirão ao político

Logo conflitos se travaram

Dispensando o senso critico

Órgãos do governo se enrolaram

Quando Maria mostrou seu tipo

Então tramaram o sacrifício

De Maria e do prefeito

O assentamento estava no oficio

O crime parecia perfeito

Para acabar com o vicio

Contrataram o homem do defeito

O movimento se expandia

Sem saber que pela noite

Políticos tramavam contra o dia

Arma de fogo, contra a foice

Isso o movimento depois veria

Quando a flor, levasse um coice

Para paralisar o movimento

Intencionaram contra os mentores

Pois não queriam contra tempo

Nos seus jardins sem flores

Vinte e três horas foi o momento

Dezesseis de novembro, as dores

A Mineiro foi alvejada dentro do lar

Em 1998 Maria, pra sempre deitou

Parecia que pobre não pode sonhar

Mas a noticia se espalhou

E seu filho assumiu seu lugar

A TV noticiava, ainda não acabou

Sua morte repercutiu no Estado

Manifestações pediam justiça

Queriam o assassino execrado

Mas o caso virava pizza

Pois eram amigos do delegado

Ate no JN saiu a noticia

Seu sangue regou o movimento

Ao contrario do que pensavam

Os assassinos naquele momento

Seus filhos, agora marchavam

Todos unidos, por um sentimento

Todos do movimento sonhavam

O prefeito cedeu um caminhão

Pessoas foram ao INCRA em Macapá

Boa vontade existia no Conceição

Mas a vontade Estadual, era má

A juíza de direito, fazia concessão

Dava a prefeitura outra liminar

Surgiu uma área de conflito

Na zona urbana, e os posseiros

Denominavam-se donos do distrito

Lá se acamparam os roceiros

Mas com tiros aumentou o atrito

Desembargadores vieram aos outeiros

Mas nada se fez de concreto

Pois a justiça se calava

Mesmo Conceição criando decreto

Ameaça e afronta se dava

E o padre veio ver de perto

A injustiça que não mudava

Quando eles fecharam a estrada

Durante uma noite e uma manhã

Abriram a porta encravada

E falaram com os políticos no divã

A petição deles foi aprovada

Os posseiros receberam pela maçã

Agora só faltava o documento

Mas transferiram a juíza

Justamente naquele momento

O outro naquela hora pasteuriza

Retardando o assentamento

Querendo sim, minimiza

Protesto na frente do fórum

Gritos e fachas, sai o juiz

E diz que conversa, com o quórum

Eles acreditam no que ele diz

E todos foram diminuindo o zoom

O processo terminou feliz

Porem faltava à prefeitura

Encaminhar o documento a Brasília

Encaminhou, mas sem estrutura

Voltando para outra avalia

Re-encaminhou com boa pintura

Mas outro prefeito não lia

Outra vez o padre entra em cena

E ameaça excomungar Baptistão

Que promete ir assistir a novena

Documentos assinados então

O assentamento sai do cinema

E o imaginário deixa de ser ilusão

O assentamento vira realidade

E ganha o nome de Maria

Quem lutou por ele de verdade

Maria de Nazaré se despedia

Fixando seu nome na eternidade

Justiça não foi feita, covardia

Quem matou a final Maria

Perguntam seus filhos e netos

A justiça é cega, quem diria

Os legisladores lhe deram vetos

O assentamento, ela não veria

É difícil construir sem desafetos

Maria de Nazaré Sousa Mineiro

Merece mais que um monumento

Merece justiça, não em parte, por inteiro

Cabe a nos lembrá-la de tempo em tempo

Mostrar que nordestino não é farofeiro

É lutador, mesmo contra o vento

Termino aqui a historia de quem

Lutava pelo próximo com o coração

Mesmo acendendo a ira de alguém

Orava a Deus pela sua redenção

Esperando contribuir para o bem

Pois amava a sua nação