Fidélia Cassandra em Sonho, Entrevistando Filósofos
I
Meu leitor preste atenção
Aos fatos que narrarei
Acontecidos a um tempo
Confesso que nem eu sei
Onde Fidélia Cassandra
Do fisico burlou a Lei.
II
Hauriu toda energia
Da aura que envolve o Ser
Saiu do corpo, em viagem
P'rá, no além, promover
Entrevistas a figuras
Que a gente só pode ler.
III
Na Grécia, só, com Pitágoras
O gênio a deixou tonta.
Aprendeu muito, dos números
E viu como desaponta
Entrevistar matemático
Sabendo pouco de conta.
IV
Aquele explorou os ângulos
Numa visão obtusa.
Expôs todo o Teorema
Que no triângulo se acusa,
Propondo ser um cateto
Se ela fosse hipotenusa.
V
Numa praça, com Heráclito
Escutou seu refletir.
Ouviu tantos aforismos
Que quase morre de rir;
Mas, entedeu sua máxima:
"No mundo tudo é devir"
VI
Com Platão foi outra prosa,
"Matando cachorro a grito"
O sábio não se deu conta
De ter entrado em conflito:
Quis dar uma aula prática
Na Caverna, sobre o Mito.
VII
Aristóteles no Tratado
Desprezou filosofia;
Quanto mais ele falava
Mais a Fidélia sorria...
Lembrando que o Brasil
Dista da Democracia.
VIII
Na Escola "O Jardim",
Ficou "em cima do muro".
Cosiderando o refrão
Do fundador, Epicuro:
"Menina viva o prazer!
Desse bem não abjuro".
IX
Ela pensou nos bons vinhos,
Nas praias da capital;
Fogos em Copacabana.
Três dias de Carnaval.
No Maior São João do Mundo,
No "torpor" passional.
X
Perdida no "Tempo Cronos"
Sem hoje, sem amanhã,
Sem ontem. Tudo eterno...
Deu asas ao seu afã
Vendo que Filosofia
Não é uma coisa vã.
XI
Provou alguns desencontros
Que nos pés faltaram chão,
Como o que aconteceu
Em mais uma ocasião
Com o "bom da dialética",
Também político, Zenão.
XII
- "Se você voltar pra terra
Montada em um jumento
Chegará lá mais depressa
Que o mais novo invento.
Criticam meus paradoxos
Mas os provo e argumento".
XIII
Diante de tanta "insânia"
Disse a Sócrates: Que farei?
Pois você sabe de tudo
Me oriente, "meu rei"...
E sua resposta foi:
"Eu só sei que nada sei"
XIV
"Caso vivesse de novo
Com esses filhos da puta
Revendo todo passado
Dessa gente pouco arguta
Desta vez eu tomaria
Dose dupla de cicuta".
XV
- Ah, meu caro pensador
Vejo que tens muita raça...
Se fosses no meu Brasil
Onde o verbo é trapaça
Morrerias d'outra forma:
Tomando muita cachaça.
XVI
Nietzsche ao vê-la perguntou:
"Qual sua graça, senhora?"
- Fidélia, meu caro mestre!
-"Só me faltava essa agora...
Tendo fé até no nome
Sei que a mim ignora".
XVII
"Pois a tese que defendo
Sei que o mundo refuta.
Dentro do meu Niilismo
Construí minha conduta
Vivendo neste, defendo
A Descrença Absoluta"
XVIII
Fidélia com seu carisma
Num sorriso já "cantado"
Quis converter o incréu
Do seu mundo de pecado
Não vindo ele a ceder
Mas ficou "bem balançado"
XIX
Naquela confusão toda
Já não sabia quem era.
Se estava viva ou morta,
Desconhecendo a esfera
Da qual só teve notícia
Através de u'a quimera.
XX
Ao abordar um passante
Este não lhe deu aparte.
-Meu senhor, perdí o senso
E o tom da minha arte,
Por favor... Estarei morta
Sendo vítima de descarte?
XXI
- Mas como sabe meu nome?
(Eita! A sorte lhe assiste...)
Claro que você tá viva!
Respondeu com dedo em riste
"A pessoa quando pensa
É prova de que existe"
XXII
Tornaram-se bons amigos
Apesar da oposição.
Ele, cultor da "ciência"
Ela, da informação
Ele, combatendo a Fé
Ela, crítica da Razão.
XXIII
Resolveu-se, em culminância
Render-lhe grande tributo
Onde Cícero discursou
Em bom latim, resoluto,
Enaltecendo a visita
Onírica, àquele reduto.
XXIV
Mas alguém roubou a cena:
O Cuco, no seu papel...
De sobressalto Fidélia
Despertou, quase pinel,
Sem ver o fim do discurso
Nem provar do coquetel.
XXV
Bocejou, se recompôs
Do susto, inda amarela
Na porta, vendo a paisagem
Pôs-se a pensar, na "procela"
Em pose na qual Rembrandt
Pintou o retrato dela.
Uma homenagem à Jornalista, Professora, Escritora e Cantora Fidélia Cassandra.
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Campina Grande, 20 de abril de 2008
124º aniversário de nascimento de
AUGUSTO de Carvalho Rodrigues dos ANJOS