VERSOS DOIDOS

Nas pontas do meu coração

um cordel eu pendurei

e escrever uma poesia

eu até bem que tentei

mas algumas das palavras

depois vi que misturei

O cordel improvisado

virou galope de burro

que se vendo acuado

deu um aloprado zurro

porém se o pego de jeito

lá na cara dou um murro

Já um tanto irritado

com tanta estripulia

meio bobo, atrapalhado,

chamei a querida maria

que olhou-me toda prosa

e respondeu que não viria

Ora bolas, atrevida!

Não me trate desse jeito

deixe de ser orgulhosa

dormimos no mesmo leito

me traga algumas rimas

senão conto seu defeito

Vê não esse meu amargor

prá fazer algo bonito

jogar tudo para cima

rezar um terço bendito

preparar doce de coco

matando cachorro a grito?

Estou tentando ajustar

nestes versos a inspiração

mas os termos vão fugindo

tirando a completa razão

pois rimo boi com butique

e rapadura com macarrão

Isso é coisa que se faça

com nossa literatura?

os cordéis são estudados

sem borrões ou sem ranhura

até lá no estrangeiro

como parte da cultura

Eles ficam admirados

com nossa capacidade

de criar versos bonitos

sobre amor ou vaidade

fazem teses na Sorbonne

e discutem na faculdade

Vou fazer relatos novos

de corno apaixonado

narrando a Segunda Guerra

com cara de malcriado

falando de cangaceiros

libertando condenado

Se numa mesma vasilha

eu juntar flores com vela

carrapatos com farinha

à guisa de mórbida tela

o importante é ser poesia

preparada na tijela

Eis aqui uns fragmentos

de versos sem qualidade

ou cordel desamarrado

de receita mal servida

espalhada na cidade

taí minha fragilidade

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/06/2009
Código do texto: T1674942
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