Dia de feira é a Festa Maior do Interior

Algumas estrofes:

Que saudade do meu interior

Sua gente, sua simplicidade

Seu orgulho é não ter vaidade

Nem apego a coisas de valor

Amizade é o seu balizador

Sua vida é uma doce brincadeira

Ninguém perde a pose por besteira

Porque sabe o que é felicidade

A alegria transborda na cidade

No dia da semana que tem feira

Numa rude barraca de madeira

Coberta de lona desbotada

Tem um monte de frutas espalhadas

Encostada as panelas da loiceira

Tem um nego dormindo numa esteira

Uma moça lavando uma calçada

Na bodega, uma prosa animada

Pra falar do inverno desse ano

Lá no beco da troca tão butano

Um bocado de coisa véia usada...

O caminhão da feira chei de gente

Se arrasta em busca da cidade

É a hora do papo das comadres

Cada qual diz um troço diferente

Zefa vêi com batom até nos dente

As bochecha de chica tão vermeia

Muito pó de arroz lhe deixou feia

Mesmo assim vai feliz e sorridente

O vestido de joana é transparente

Rosa tem um buraco numa meia

Bernadete se arruma e se penteia

Bota um frizo no mêi do penteado

Severina com seu bucho quebrado

Tá igual um filhote de baleia

Zilda fala demais da vida alheia

Isabel vai cochilando inocente

Sua calça rasgou-se bem na frente

Chega mostra a sua intimidade

E os home espia com vontade

O negócio por onde nasce gente...

A feirinha é sortida e variada

Tem arreio, corda, sino, chocalho

Creolina, chicote, som, baralho

Prego, pino, martelo, cabeçada

Ciscador, machado, foice, enxada

Coxim, sela, chapéu, bota e argola

Caldeirão, frigideira, caçarola

Armador, rede, pente, pó, cangalha

Lençol, lenço, licor, livro, toalha

Tamborete e alpercata de sola

Califon. saia, anágua, camisola

Arupemba, alguidá, colher de pau

Luz, tapete, papeiro, berimbau

Alicate, gilete, bolo e bola

Coco verde, trinchete, papel, cola

Goma, mel de abelha, fechadura

Quadro, régua, esmalte e leitura

Sabonete de casca de aroeira

Pano grosso de espriguiçadeira

E agulha de máquina de costura...

Tem tarrafa, anzol e ferradura

Santo, cinto, chinela e chibata

Coisas do Paraguai, CD pirata

Cana de alambique da mais pura

Lambedor, pomada pra queimadura

Periquito, canário e gaiola

Sanfoneiro, tocador de viola

Um moleque pedindo uns trocado

E no canto da rua um aleijado

Que em nome de Deus pede uma esmol

Sopa, caldo de cana, coca-cola

Pão, coxinha, pastel, grude, bolacha

Tapioca, queijo assado na taxa

Leite gordo, suco de graviola

Gergelim, mexerica, acerola

Erva-doce, cuminho e colorau

Papa de carimã, cuscus, mingau

Macaiba, pitomba e azeitona

Tem xarope de leite de mamona

E piaba frita no alho e sal...

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 13/07/2009
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