Cordeiro da Cartucheira (Ou de quem lhe marcou a alma)

Deixando marcas ele partiu

Levou partículas de um dom

Um coração que outrora feriu

Hoje é ferido em outro tom

Tambores que ainda não se viu

Fazia, na passagem, um som

De um sentimento, um brilho anil

Qual nunca mais dirá que foi bom

E então ferida ela só escutou

A música que a atormentava

Um peito que, então, estourou

Em pranto de quem não aceitava

Mas do passado, então, lembrou

Havia peso no que cobrava

E em seu leito se declarou

De sua própria morte, a culpada

Ele, já longe, não mais quis ver

Um pranto seco sem um sentido

Repousou onde veio a nascer

Um sentimento hoje perdido

E o sol parecia não mais querer

Neste dia ter mais nascido

Pra ver o homem hoje sofrer

Por ter rompido o teu umbigo

Ela então já era só o corpo

E alma presa em arrependimento

Subiu aos céus, voltou ao porto

Não havia lugar algum lá dentro

Pra quem cultivou um amor morto

Regado de traição e lamento

Enquanto ele tão absorto

Julgava as fêmeas ao sofrimento

Quis ficar para o resto da vida

Deitado, em repouso eterno

Orou pra deus, Jesus e Maria

Blasfemou a falecida ao inferno

E lá dos céus um tremor ouvia

Trovões de cada vez mais perto

Era a resposta de quem dizia

Que não haveria mais inverno

Queimaria em brasa o peito

Enquanto dela ele se lembrasse

E, então, não haveria mais jeito

Pois mais que ainda a odiasse

Nada neste mundo é perfeito

Viu como fim se alguém lhe matasse

Resolveu com um tiro certeiro

De joelhos no meio da tua face.

Júnior Leal
Enviado por Júnior Leal em 22/07/2009
Reeditado em 22/07/2009
Código do texto: T1713059
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