O ciclista

Se um poeta é aquele

que alguma hora do dia

se dedica a escrever

o que sua verve cria

é isso que tenho feito

com a minha poesia

Mas privado das imagens

que a inspiração projeta

por vezes fico pensando

que ainda não sou poeta

e deixo de versejar

para andar de bicicleta

Só preciso pedalar

para ter esse prazer

de ir fazendo nas ruas

que estou a percorrer

a combinação perfeita

de esporte com lazer

E dobrando as esquinas

com a minha bicicleta

nem fico questionando

se sou um bardo atleta

ou apenas um ciclista

que é metido a poeta

Até porque escrevendo

não expresso a beleza

harmonia e perfeição

das coisas da natureza

que eu vejo pedalando

nas ruas da redondeza

Nas entranhas da cidade

deparo a fauna e a flora

seja numa trepadeira

que na cerca se escora

seja num joão-de-barro

lá no poste onde mora

E tanto no preto e branco

definido da andorinha

quanto no arroxeado

esboçado na azulzinha

eu vejo uma poesia

mais bonita que a minha

E me vejo a passear

pedalando a magrela

subindo por uma lomba

ou descendo com cautela

sem saber se ela me leva

ou se é eu que levo ela

Saindo da Agronomia

que atravesso primeiro

cruzando viela e beco

pela Lomba do Pinheiro

vou fazer em Belém Velho

meu passeio costumeiro

Variando meu percurso

com prazer vou pedalando

e a encosta dos morros

no entorno observando

tendo sempre na lonjura

o horizonte me chamando

Escanchado no selim

e estribado nos pedais

vou atento deparando

os campos e matagais

numa região repleta

de belezas naturais

Montado no meu camelo

subo e desço ladeira

nas ruas de Porto Alegre

sentindo a brisa fagueira

Se não faltasse pulmão

cruzava uma cordilheira

Se no trajeto escolhido

a subida é mais custosa

no declive a gangorra

vai descendo silenciosa

e posso parar na sombra

de uma figueira frondosa

E na sombra da figueira

eu descanso assistindo

um bando de passarinhos

em revoada subindo

e o colorido vistoso

de arbustivas florindo

E fazendo uma parada

ou pilotando a magrela

eu vejo um belo cenário

sem moldura nem janela

Sou como a ave que voa

no meu passeio com ela

Margeando a estrada

entre carro e pedestre

vejo toda a variedade

da vegetação rupestre

e no tempo que faz jus

a paisagem silvestre

É quando vem a vontade

nesse trecho que percorro

de morar numa casinha

dessas de cima do morro

com galinheiro, pomar,

horta, poço e cachorro

Pra ter na minha varanda

o mais extenso mirante

do panorama espraiado

no horizonte distante

desfrutando o privilégio

da beleza circundante

Entretanto essa idéia

é somente um devaneio

inspirado na paisagem

que vejo nesse passeio

manobrando o guidom

na estrada que costeio

E um roteiro diferente

que faço na zica amiga

é seguir pra Vila Nova

que é uma vila antiga

O bairro mais italiano

que nossa cidade abriga

Bisnetos de imigrantes

cultivam seus parreirais

nesse trecho do caminho

de paisagens rurais

que nossa serra gaúcha

nos faz recordar demais

Um cariz diferenciado

esse percurso descerra

Seus vinhedos no verão

parecem com os da serra

que lembram por sua vez

os vales da outra terra

O verde dessas videiras

tem variações sutis

contrastando com o céu

no seu imenso matiz

e o sol alegra as imagens

de ambientes pastoris

Em resumo é onde vou

nessas minhas pedaladas

com a minha bicicleta

pelas ruas e estradas

conhecendo a cidade

nos declives e lombadas

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 04/08/2009
Reeditado em 29/12/2010
Código do texto: T1735928
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