AS SUPRESAS DESSA VIDA

Quantas surpresas na vida

modificam nosso dia

algumas trazem tristezas

outras muita alegria

são tantas que vem com riso

nos fazendo perder o siso

várias com melancolia

Diversas nos enternecem

mas tantas nos fazem sofrer

vem na forma de carinho

à noite ou ao amanhecer

destroem ou edificam

amargam ou adocicam

transformando nosso viver

Elas são interessantes

tem aquelas engraçadas

capazes de mudar tudo

que nos levam às risadas

muitas são tão cabeludas

que até falam as mudas

quando são amarguradas

Mas há surpresas ingênuas

sem nenhuma consequência

que somente surpreendem

não trazendo malquerença

por vezes hilariantes

uns fatos estonteantes

com jeito de inocência

Uma dessas aconteceu

certa noite em meu apê

ao ouvirmos um barulho

que altas horas faz tremer

já ficamos de prontidão

com pedaços de pau na mão

não sabíamos o que fazer

Minha esposa me olhou

então retribui o olhar

quando novo baque surdo

me fez da cadeira pular

alguma coisa havia

meu coração já sabia

precisava verificar

Qual não foi nossa surpresa

quando tudo descobrimos

um pássaro assustado

foi somente o que vimos

um pardalzinho, coitado,

bobo, desorientado,

e dessa surpresa nós rimos

Por um acaso da vida

não sei que horas do dia

o bicho havia entrado

sem querer pois não queria

ficava se debatendo

por pouco enlouquecendo

mas fugir não conseguia

Algo devia ser feito

pra ajudar o passarinho

senão passaria a noite

provocando burburinho

restava abrir janelas

para que por meio delas

pudesse voar o bichinho

Mas de tão apavorado

pra longe de nós voava

o pardal atemorizado

quando me aproximava

ficava se debatendo

ia nos ares tremendo

chegar perto não deixava

Eu tentava agarrá-lo

minha mulher isso também

mas de tão apavorado

não permitia que ninguém

dele se aproximasse

e por mais que eu tentasse

nem com reza ou com amém

Tínhamos boa intenção

queríamos libertá-lo

mas pra isso acontecer

teríamos que pegá-lo

disso ele não sabia

então de medo morria

e se quiséssemos matá-lo?

Corremos para lá e pra cá

dois cansados já suando

chegávamos perto e ele

saltava escorregando

encontrava as paredes

se tivesse duas redes

eu o acabava pegando

Que bichinho desvairado!

Em alguns poucos momentos

escondeu-se num armário

e já cheio desse tormento

desisti de persegui-lo

é bem mais fácil pegar grilo

que pardal em movimento

Achei melhor esquecê-lo

que fosse à pata que o pariu

se ele veio de repente

que se fosse como surgiu

ou secasse até morrer

eu não queria mais sofrer

faz de conta que ninguém viu

Tão-logo o silêncio se fez

voltei ao meu computador

fazendo minhas poesias

cantando loas ao amor

falando de fantasia

de beijos, paz e alegria

de quanto a paixão causa dor

Porém nem mesmo um verso

encontrei tempo pra rimar

porque logo o pardalzinho

alvoroçou-se pra voar

saiu do esconderijo

esquecendo do perigo

na ânsia de se mandar

Mas ele, nervoso, nos viu

e muito mais se apavorou

voando feito foguete

na parede ele topou

despencou bem ao meu lado

trêmulo, desesperado,

cheio de medo me olhou

Tão ágil quant'o guepardo

perseguindo seu almoço

dei um pulo da cadeira

com um grande alvoroço

agarrando o passarinho

com cuidado, com carinho

pra não quebrar nenhum osso

Eu vi medo nos seus olhos

ele parecia chorar

certamente não pensava

que logo iria voar

ainda tentou se mexer

num último gesto que

dizia: eu quero lutar!

Frente à janela aberta

segurando o pardal na mão

avistando a lua cheia

e lá embaixo a escuridão

quis mostrar só simpatia

mas isso a ave não via

de tão tenso seu coração

Pela última vez o olhei

sorrindo abobalhado

mas ele lá me fitando

com olhar desconfiado

botei meu braço pra fora

muito frio àquela hora

como ar refrigerado

Devagar abri meus dedos

para fazer tudo certo

quando o pardalzinho notou

que já estava liberto

abriu asas altaneiro

e na pressa do desespero

pela noite escura voou

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/08/2009
Código do texto: T1756544
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